quarta-feira, 3 de junho de 2009

Eleições Europeias

Este domingo dia 07 de Junho realizam-se as Eleições Europeias iniciando um ciclo de 3 actos eleitorais a realizar este ano. 2009 será provavelmente um dos anos mais importantes para a jovem democracia portuguesa. Apesar de o sufrágio ter como objectivo eleger os 22 representantes de Portugal no Parlamento Europeu (órgão com cada vez mais poderes e numa perspectiva em que cada vez mais decisões se tomam ao nível comunitário e não nacional) perspectiva-se uma elevada abstenção fruto da descredibilização do sistema político e aqueles que se dirigem às urnas, fazem-no na sua maioria para "punir" ou "premiar" o governo vigente.

Pessoalmente estou a achar a campanha um pouco fraca no sentido em que se privilegia pouco as propostas concretas e dá-se mais ênfase a ataques directos entre candidatos. Os cabeça-de-lista estão a reportar as opiniões dos partidos e a atacar/defender o governo em detrimento de informarem os eleitores daquilo que farão caso sejam eleitos no dia 07 de Junho. A comunicação social e a população como um todo também tem a sua quota de "culpa" pela forma como a campanha se está a desenrolar. A comunicação social privilegia nos seus espaços informativos as "picardias" entre candidatos e deixa que as propostas passem despercebidas contribuindo para uma menor qualidade da campanha. A população no geral peca pelo facto de se interessar nessas autênticas novelas entre partidos invés de estudar as propostas e os conteúdos de cada partido, fazendo de seguida o seu juízo e orientando o seu sentido de voto de acordo com o mesmo.

Estas eleições marcam também a estreia de novos partidos que tentam romper com os actuais e tentam aproveitar o actual descontentamento pelos políticos no geral para captar votos. Na minha opinião esta proliferação de novos partidos deve-se também à inflexibilidade dos existentes, ou seja, cada partido tem uma linha fixa de pensamento do qual nenhum militante pode discordar. Esta situação leva a que muitos partidos defendem ideologias muito similares somente com pequenas diferenças. Não sou a favor de que se imponha um limite ao número de partidos que podem existir mas acho que os próprios partidos teriam mais a ganhar se privilegiassem o debate interno invés de fomentarem o sucessivo fraccionamento.

De acordo com as sondagens/análises que consultei e de acordo com a minha opinião pessoal apresento a minha "aposta" para os resultados de domingo:

PS - 8 eurodeputados
PSD - 6/7 eurodeputados
BE - 3 eurodeputados
CDU - 2/3 eurodeputados
CDS/PP - 1/2 eurodeputado(s)
MEP - 0/1 eurodeputado

NOTA: Acredito que se a CDU conseguir um 3º eurodeputado o PSD não elegerá mais de 6 e se o MEP conseguir eleger a Laurinda Alves é porque o CDS não consegue ir além de Nuno Melo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Mobilidade | Meios de Transporte

Cada vez mais as populações vivem mais afastadas do seu local de trabalho. As zonas centrais das grandes cidades são demasiado caras e os subúrbios estão geralmente ocupados pelas populações de fracos recursos, constituindo frequentemente problemas de ordenamento do território e de segurança pública. A classe média tende assim a afastar-se cada vez mais do centro na sua busca de qualidade de vida. Formam-se assim centros urbanos que funcionam como autênticos "dormitórios". Estes centros são constituídos na sua quase totalidade por edifícios habitacionais, não existindo comércio nem outros edifícios públicos ou privados que sejam prestadores de serviços. De dia parecem cidades fantasma pois não existem actividades que fixem pessoas nestes locais.

Com a multiplicação destes centros torna-se necessário fornecer vias de comunicação para a deslocação diária casa-emprego e vice-versa. Infelizmente, na maioria dos casos, a única forma de nos deslocarmos é de automóvel (exemplo aqui). Essa quase total dependência do transporte privado provoca graves problemas como a elevada emissão de gases poluentes, poluição sonora, acidentes de viação, congestionamento do trânsito, perda da qualidade de vida e uma excessiva concentração de veículos ligeiros provocando uma necessidade crescente de terrenos para parqueamento e um congestionamento da cidade como um todo. É urgente procurar novas alternativas e acima de tudo, torná-las atractivas para que tenham uma forte adesão. De seguida, vou analisar os vários meios de transporte e a sua evolução. Todos têm a sua utilidade e tal como nas energias renováveis, a "solução" será uma combinação de todos, potenciando as suas vantagens e construindo uma mobilidade segura, rápida, cómoda, barata e sustentável. Analisarei não só os transportes capazes de fazer a deslocação casa-trabalho mas todos aqueles que ligam os vários pontos do mundo, seja em em curtas, médias ou longas distâncias.

Comboio - Um meio de transporte cada vez mais versátil e que se apresenta como uma solução para vários problemas. Não depende das condições de tráfego e é capaz de transportar bastantes pessoas. Comboios urbanos e suburbanos conseguem fazer as ligações casa-emprego sem congestionar as cidades e sem toda a poluição associada. Poderia ser mais utilizado no transporte de mercadorias. Para se tornar sustentável necessita que a produção eléctrica para o seu funcionamento provenha de fontes renováveis. É necessário investir também na segurança e na competitividade económica. A grande desvantagem do comboio é a sua fraca mobilidade, ou seja, não se consegue adaptar a rotas alternativas, estando limitado às linhas ferroviárias. Para compensar este factor é necessário investir no transporte intermodal para que as estações ferroviárias disponham de outros meios de transporte (táxis, metro, autocarros, etc.) capazes de fazer as ligações mais específicas. Com a proliferação dos comboios de alta-velocidade poderia ser rápido e cómodo viajar por toda a Europa evitando os check-in e check-out que os aeroportos nos obrigam. Na minha opinião, este meio de transporte deveria ser privilegiado a nível local, regional, nacional e europeu tanto no transporte de mercadorias como de passgeiros. Uma mobilidade do futuro e com vista a resolver os problemas associados à mesma terá de englobar o comboio como uma solução principal.

Avião - O mais rápido dos meios de transporte. Excelente para transportar pessoas em viagens de longa distância e para transportar mercadorias perecíveis. Provavelmente o mais díficil de tornar sustentável tendo em conta a sua enorme necessidade de energia, contudo já existem motores de nova geração que consomem menos 15% que os actuais o que é um excelente primeiro passo. É necessário apostar fortemente na investigação para que os avioes se tornem cada vez mais rápidos e gastem cada vez menos energia o que consequentemente os tornará cada vez mais económicos. Penso que actualmente este meio de transporte poderia perder alguma da sua importância especialmente nos vôos domésticos e europeus em detrimento do ferroviário. O avião é insubstituível mas pode ser "fintado" em médias distâncias, continuando com a sua primazia no longo curso e numa crescente banalização da sua utilização consequência de preços cada vez mais atractivos e de uma burocracia cada vez menor. É necessário apostar na evolução do transporte aéreo mas numa perspectiva de mobilidade futura penso que este meio de transporte terá de perder "peso".

Barco - A grande vantagem do transporte marítimo é a sua gigantesca capacidade de carga. Consegue transportar enormes quantidades de mercadorias de uma ponta do globo para a outra. Nesta perspectiva não vejo, num futuro próximo, qualquer "concorrente" para este meio de transporte. Não havendo possibilidade de o substituir é necessário adaptá-lo à mobilidade futura. Tal como no avião, existem tecnologias que permitem consumir menos energia mas em relação ao comboio e ao automóvel, o barco continua bastante atrás numa óptica de mobilidade sustentável. A solução é a contínua aposta na investigação. Penso que é necessário as trocas comerciais se processarem mais próximas, tentando diminuir a necessidade de barcos de elevado porte. Contudo as trocas intercontinentais terão tendência para aumentar sendo necessário construir barcos cada vez maiores e que consumam cada vez menos energia. O desenvolvimento dos portos e sua ligação com outros meios de transporte é também um sector essencial para o desenvolvimento do transporte marítimo.

Automóvel - É o mais utilizado e aquele que acarreta maiores problemas. Todos nós nos temos que mentalizar que uma mobilidade futura compreende uma forte redução na quantidade de automóveis utilizados. Não é sustentável de nenhum ponto de vista cada um de nós se deslocar diariamente de automóvel, percorrendo distâncias cada vez maiores. Vejo o futuro do automóvel como um meio de transporte que utilizamos em casos de excepção e não como um meio de transporte para as deslocações rotineiras, independentemente da distância percorrida. É necessário apostar mais nos transportes colectivos como o autocarro e o comboio e desincentivar a utilização do automóvel. Sou a favor de medidas como portagens à entrada das cidades desde que existam alternativas e desde que os transportes colectivos sejam seguros, cómodos e económicos. É preciso estudar as alternativas, implementá-las e de seguida fomentá-las, incentivando a sua utilização e desincentivando a utilização do automóvel. Só reunindo todas estas condições é que será possível realizar mudanças em grande escala. A redução do número de automóveis particulares não se esgota apenas na utilização de transportes alternativas. Iniciativas como o car-sharing devem ser apoiadas e por fim, deve-se desenvolver uma tecnologia sustentátel em torno deste meio de transporte. É importante reduzir o seu número mas é igualmente importante que os existentes não poluam, e nesse campo, o automóvel apresenta-se numa estado avançado de desenvolvimento estando a sua massificação para breve.

Bicicleta - A utilização de meios de transporte como a bicicleta são completamente ignorados como uma solução para a mobilidade sustentável. Numa mobilidade do futuro o uso de bicicletas e outros meios de transporte similares (por exemplo a Segway) têm de ser encarados com seriedade e o seu uso massificado tem de ser promovido. É necessário uma autêntica "corrida" à construção de ciclovias dotando todos os centros urbanos de poderosas ligações. É necessário também um forte investimento na educação das populações para sensibilizar as mesmas em torno das várias vantagens que este tipo de transporte encerra (vantagens económicas, sociais, ambientais, etc.). Para assegurar o sucesso da massificação do uso da bicicleta nas deslocações diárias é necessário dotar as cidades e os outros meios de transporte de equipamentos que visem o seu transporte e parqueamento. Uma mobilidade futura tem de assegurar que os autocarros e os comboios conseguem transportar bicicletas e que as cidades têm locais para as parquear. Um veículo que actualmente se ignora encerra em si uma grande solução para a mobilidade futura.

Resumindo, a actual mobilidade não é sustentável de nenhum ponto de vista e é necessário alterar a realidade. Nenhum meio de transporte pode ser substituído na sua totalidade mas o seu peso tem de ser alterado e em todos eles é possível desenvolver tecnologias que levem a melhorias. Melhorias essas que podem começar em cada um de nós e com a forma como nos deslocamos pois devemos ser os primeiros a procurar soluções e a exigi-las caso não existam. A mobilidade é essencial para a nossa sociedade e reflectirá o futuro que queremos construir.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

China | Economia, Ambiente e Sociedade

O dragão vermelho é sem dúvida um país bastante interessante de estudar numa óptica do seu futuro e, consequentemente do futuro do mundo. A sua dimensão geográfica, a sua quantidade de população, a sua produção industrial e acima de tudo o seu dinheiro, tornam a China numa gigantesca potência em franco crescimento, mesmo com uma crise mundial.

A sua economia merece por mérito próprio ser estudada por todos nós, encerrando em si diversas lições. A mão-de-obra barata foi um pilar do milagre económico chinês tornando este país no "produtor do mundo", exportações essas facilitadas pela crescente globalização. Um crescimento "viral" que se multiplicava sozinho mas sempre com o olhar atento do Estado. Não era necessário dinamizar a procura interna enquanto os países ocidentais tivessem dinheiro para gastar e condições para se endividar consumindo sofregamente os produtos oriundos de Pequim. As obras megalómanas em torno do Jogos Olímpicos foram uma pequena amostra do poderio económico chinês revelando essa nova face ao mundo. Com uma crise de procura global que veio atingir fortemente as exportações chinesas, o tendão de Aquiles da sua economia, Pequim não esperou por uma cura milagrosa e decidiu agir. Quer se concorde ou não com a opção chinesa para solucionar a crise, há que dar o mérito devido a Wen Jiabao por agir de forma rápida e decisiva. Para contornar o problema da falta de procura dos seus produtos nos mercados internacionais, a China aposta agora numa dinamização do consumo interno, aproveitando o recursos endógeno que é a sua elevadíssima população. Isto permite à China "fintar" parte da crise e ao mesmo tempo assumir menores riscos em relação a crises futuras deste género. Apostou também no investimento público como forma de reanimar artificialmente a procura, ou seja, o Estado absorve a produção com as suas obras enquanto os privados se mostram relutantes. Ao mesmo tempo este investimento gera emprego e incentiva o consumo interno conferindo outra ajuda ao escoamento da produção. Seja a melhor opção ou não o governo chinês pode-se gabar de algo que a Europa não pode... Actuar! A China está a propor ao mundo uma alternativa a seguir, tal como um líder propoe um caminho à sua tribo.

As alterações climáticas e o meio ambiente estão cada vez mais na ordem do dia e o regime chinês está atento. Apesar de inaugurar 2 centrais a carvão por semana, a China será provavelmente pioneira em muitas áreas da conservação do meio ambiente e será capaz de fazer uma adaptação relativamente rápida à produção de energia por fontes renováveis. Costumo dizer que tudo o que é chinês é megalómano e a área do ambiente não será diferente. A China é o maior poluidor mundial em termos brutos (em emissões per capita continua muito atrás do maior poluidor, os EUA) mas será dos países com uma transação mais fácil para a sociedade "carbono zero". Veja-se o exemplo dos sacos de plástico. A sua distribuição gratuita foi pura e simplesmente proibida reduzindo a sua quantidade drasticamente. O regime de Pequim é, para o bem e para o mal, um regime forte e a população chinesa acata no geral as "ordens" do seu governo. O plano de estímulos chinês investe mais do dobro em energias "verdes" que o plano de Obama, plano esse apelidado de "Green New Deal". A China está actualmente a fazer investimento colossais em investigação ligada à problemática das alterações climáticas. O pós-Quioto será revelador da posição chinesa mas acredito que quando a China quiser mudar o seu rumo vai fazê-lo "à maneira chinesa", ou seja, de uma forma megalómana. E acredito que essa metamorfose ocorrerá rapidamente pois Wen Jibao já se apercebeu que ambiente e economia andam de mãos de dadas. Possivelmente a China passará de maior poluidor mundial para maior produtor mundial de energias renováveis num relativo curto espaço de tempo. E aí a Europa e os EUA vão lamentar todas as indecisões e todas as metas enfraquecidas e ainda assim, sucessivamente inatingidas.

O mundo está em constante evolução e esta crise é capaz de acelerar determinados fenómenos. Num país que está a sofrer as alterações que a China sofre, essa transformação na sociedade é ainda maior. Será interessante caracterizar o estilo de vida chinês em 2020-2030 e verificar que a política e economia chinesa são únicas e têm os seus trunfos para jogar na política internacional.

domingo, 31 de maio de 2009

Tortura | Pena de morte | Prisão

A propósito da prisão de Guantánamo já clarifiquei a minha posição acerca da tortura e dos métodos utilizados para se conseguirem informações supostamente vitais para a segurança interna. Hoje o debate centra-se não apenas na tortura mas em todo o leque de sanções/punições que existem e a forma como olhamos para o estabelecimento correccional e prisional.

Não sou a favor de qualquer tipo de tortura em nenhum caso bem como não sou a favor da pena de morte. Por dois motivos.

- Cometem-se erros e a pena de morte é irreversível.
- Não acredito que a maior punição para certos crimes seja a pena de morte. Vejo a prisão perpétua como algo bastante mais punitivo para crimes que me tiram do espectro racional (pedofilia, determinados homicídios, etc.).

Conclui-se portanto que a solução é encarcerar os criminosos. Sim, mas não neste modelo prisional.

É necessário reformular a imagem externa da prisões bem como a sua organização interna. Um complexo de celas onde os reclusos apenas aprendem a aumentar o seu ódio e onde ficam completamente desactualizados do mundo em redor não é um modelo que defendo. Uma sociedade que rejeita qualquer ex-recluso independentemente do seu valor e que discrimina esses indivíduos não é um modelo que defendo. Não sou ingénuo ao ponto de pensar que todos os reclusos que actualmente estão inseridos no nosso sistema prisional apenas lá estão por "culpa da sociedade". Alguns infelizmente estarão nessa situação mas acredito que uma percentagem alargada dos criminosos decida cometer crimes pela via do "facilitismo" e pela sensação de impunidade.

O que fazer então?

- Políticas de inclusão social correctamente aplicadas e com uma fiscalização eficaz. É necessário o Estado apoiar quem mais necessita e verificar se esse apoio está a ser correctamente aplicado. Esta é uma medida que vai fazer diminuir os índices de criminalidade. (Ver este belo post).

- Polícias bem equipados e formados. Se os próprios polícias vivem em condições deploráveis e têm condições de trabalho ainda piores é impossível desempenharem bem a sua função. Esta medida permite trazer mais e melhor segurança para as populações e evitar abusos de poder e revoltas por parte dos agentes da lei.

- Justiça devidamente aplicada. Quem comete crimes tem de ser punido. O sujeito X assalta Y porque os pais se divorciaram e ficou traumatizado. É necessário políticas de apoio e inclusão para evitar a "formação" de mais X mas Y não tem culpa que este X lhe tenha violado os direitos e portanto tem de ser punido. Não falo de uma política de medo mas simplesmente de todos termos a noção de que se cometermos crimes vamos ser punidos. Actualmente não acredito que todos tenhamos essa noção. Isto iria também diminuir os níveis de criminalidade.

- Prisões XXI. As prisões têm que ser locais de reabilitação e reinserção social e não edifícios degradantes onde se "enjaulam" pessoas. É necessário os criminosos serem punidos mas também é necessário acompanhá-los para que percebam o porquê de ser punidos e para que aproveitam a sua segunda oportunidade quando forem libertados. Isto iria essencialmente reduzir a taxa de reincidência criminosa (maior parte dos criminosos são reincidentes).

- Instituições de acompanhamento. Só existe em Portugal uma instituição que acompanha e auxilia reclusos e ex-reclusos. Está sediada em Lisboa, num terreno perto do Centro Comercial Colombo em vários contentores provisórios há mais de 20 anos. Perdeu a certificação profissional dos cursos que administrava aos ex-reclusos. Segundo palavras de um psicólogo membro da Direcção a taxa de sucesso é de 1%. É necessário dizer mais alguma coisa? Experimente-se apoiar esta instituição e formar outras e veremos a taxa de reincidência a diminuir.

- Educação da população. Muito ao jeito de Barack Obama eu digo (e acredito!) que a mudança começa em todos nós. É preciso sensibilizar a população no geral para as consequências da discriminação. Todo o tipo de discriminações. Porque elas são geradoras de novos criminosos e de reincidentes. Causam a desintegração de indivíduos consecutivamente e geram ódios que se desenvolvem como bolas de neve. Uma melhor sensibilização/informação de todos nós iria ser em si uma excelente política de integração social.

Porque é benéfico para "ambos os lados" existirem menos criminosos e aqueles que existem se conseguirem adaptar de novo à vida em sociedade. É benéfico para os indivíduos que terão mais possibilidades de ter uma vida próspera e completa e benéfico para a sociedade porque vê os seus direitos a serem violados cada vez com menos frequência.

Pense-se assim: O sujeito X assaltou uma loja. Foi condenado a 5 anos de prisão. Durante esses 5 anos tornou-se viciado em droga e foi violado várias vezes. Foi também vítima de maus tratos por parte dos guardas prisionais. O seu único "amigo" é um conhecido criminoso que, gere dentro de grades, uma grande rede de tráfico de droga. X nunca leu um livro/revista nem nunca viu um noticiário durante esses 5 anos. X tem o 4º ano. Ao fim de 5 anos X é libertado e não recebe qualquer apoio por parte de uma instituição. X não arranja emprego (por falta de ofertas e por ser um ex-recluso). X passa a traficar droga na rede do "amigo". X é apanhado e volta para a prisão.

Agora pense-se na alternativa: O sujeito X assaltou uma loja. Foi condenado a 5 anos de prisão. Durante esses 5 anos recebeu acompanhamento psicológico e apostou na sua formação, tendo conseguido um curso profissional em carpintaria (área em que trabalhava antes de ser preso) com equivalência ao 12º ano. Participou num programa de cooperação com a polícia. Com a sua ajuda foi desmantelada uma rede de tráfico de droga cujo cabecilha estava já dentro de grades, gerindo a sua rede na sua própria cela. O Estado deciciu que X iria receber 500 euros quando fosse libertado como forma de agradecer a sua ajuda. X é assinante de uma revista semanal e de um jornal diário. X tem direito a ver todos os dias o telejornal e a 2h de Internet por semana. Estes serviços são pagos com o trabalho de X na carpintaria da prisão. Ao fim de 5 anos X é libertado e acolhido por uma instituição que lhe assegura sustento até arranjar um emprego. Esta instituição auxilia também X a encontrar um emprego através do envio de CVs e contactando com o centro de emprego. X consegue um emprego na carpintaria onde trabalhava antes de ser preso. Como forma de agradecer a formação gratuita que recebeu durante os 5 anos em que esteve preso, X participa 1x por semana num programa do Governo onde ex-reclusos falam sobre as suas experiências aos jovens, tentando sensibilizar os mesmos para que estes não cometam delitos.

Nem todas as histórias poderão mudar o seu curso como X mudou mas acredito que muitas o poderiam fazer.

sábado, 30 de maio de 2009

Ciberguerra

O presidente Barack Obama decidiu criar um gabinete na Casa Branca responsável pela cibersegurança. Este gabinete é fruto de um relatório que o presidente pediu sobre o estado das defesas "online" dos EUA e encontra-se alinhado com a estratégia do Pentágono visto o mesmo estar a planear um comando militar inteiramente dedicado à ciberguerra.

O Público desenvolve esta notícia constatando que o novo gabinete ficará a cargo de um "ciber-czar" que terá como objectivo coordenar os esforços levados a cabo pelos vários organismos que dedicam parte dos seus recursos à cibersegurança. O relatório entregue a Obama terá apontado várias deficiências na resposta dos EUA a um ataque deste tipo e uma necessidade urgente de redobrar esforços. A preocupação de Obama tem sido crescente especialmente depois das suspeitas de ciber-espionagem por parte do governo de Pequim e após um pirata informático se ter conseguido infiltrar no sistema responsável pela rede eléctrica, ataque esse que não originou qualquer consequência.

Tal como qualquer outro campo/sector a defesa tem sofrido vários desenvolvimentos e apresentado a sua própria evolução. Bill Gates, Larry Page, Sergey Brin e companhia demonstraram que informação é poder. E cada vez mais o poder da informação suplanta o próprio poder bélico. Nenhum governo pode descurar a crescente importância da ciberguerra pois a mesma pode provocar efeitos tão nefastos como o lançamento maciço de bombas.

Tal como na guerra química é necessário construir defesas para a ciberguerra e preparar os organismos governamentais e a própria população para um cenário deste género. Actualmente é possível um míudo sediado numa garagem manipular o sistema de distribuição de água, o sistema de distribuição de electricidade, a gestão hospitalar, o tráfego aéreo, os movimentos bancários e bolsistas, estruturas políticas e militares, etc. É um novo tipo de guerra, com um novo tipo de inimigos e com um novo tipo de armamento. E pelo facto de um computador ligado à Internet não encerrar em si uma bomba nuclear, isso não significa que não possa ser tão ou mais letal para um país.

Num mundo globalizado tudo mudou e a guerra não fugiu a essa "regra". Quem pensar que a defesa de um Estado se faz somente com aviões, tanques e metralhadoras está ainda num cenário de guerra do século XX.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ambiente | Futuro | Loucura?

A edição nº846 da revista Visão (referente a 21/05 até 27/05) tem como tema de capa "Como Salvar a Terra do Calor do Sol". Este título refere-se a vários megaprojectos que vão ganhando cada vez mais apoiantes e sobre os quais se pondera cada vez mais a sua efectiva concretização. Tal acontece porque cada vez mais cientistas (e não só) não acreditam que os líderes mundiais sejam capaz de agir atempadamente, reduzindo as emissões de gases poluentes e travando o aumento do aquecimento global. Seguem-se esses projectos inovadores:

1) Escudo Solar - Um escudo solar a orbitar em torno da Terra com 2 mil quilómetros quadrados constituído por 16 biliões de placas de vidro conseguiria filtrar 2% da radiação solar, o suficiente para conter o aquecimento global. Este escudo apesar de actuar directamente sobre o problema sem efeitos colaterais e com uma possibilidade de destruição caso algo corra mal tem como inconvenientes o seu transporte e o seu elevadíssimo custo de fabrico.

2) Água salgada na atmosfera - Mil aspersores (navios gigantes com chaminés) sediados nos vários oceanos seriam capazes de expelir 15.800 metros metros cúbicos de água por segundo em direcção ao céu, aumentando a capacidade de reflexão das nuvens. Apesar de na teoria este projecto não ter qualquer efeito negativo para o ambiente seria preciso um imenso esforço internacional para construir os mil aspersores e para os sustentar visto serem autênticos sorvedouros de energia.

3) Material reflector em larga escala - Plataformas de plástico ou película espelhada sediadas nos oceanos e nos desertos seriam capazes de aumentar o albedo da Terra. Este processo não interferiria com o ambiente visto apenas "imitar" o poder reflector do gelo mas somente quantidades inimagináveis de material poderiam aumentar os actuais 30% de luz solar que a Terra envia de volta para o espaço.

4) Dióxido de enxofre na atmosfera - A injecção de dióxido de enxofre na estratosfera (entre 1,5 a 4,5 milhões de toneladas) iria aumentar a quantidade de calor bloqueado pela Terra. Este método tem eficácia comprovada e as quantidades exigidas são perfeitamente exequíveis. Contudo o dióxido de enxofre interfere com a camada de ozono e pode provocar chuvas ácidas além das reservas demonstradas por vários cientistas quando se manipula quimicamente a atmosfera.

5) Aspiração do CO2 - Além da captação e sequestro do CO2 produzido pelas centrais termoeléctricas (CCS) existem projectos para máquinas que "purificam" o ar. Utilizando soda cáustica conseguem absorver ar contaminado com dióxido de carbono e "devolvê-lo" com níveis bastante inferiores. Os principais problemas são a quantidade de máquinas necessárias (tendo em conta os actuais níveis de CO2 e o seu presumível aumento), respectivo consumo de energia e locais onde se armazene em segurança o dióxido de carbono sequestrado.

6) Cultivo oceânico - O pó de ferro introduzido nos oceanos origina uma maior concentração de fitoplâncton à superfície. Esta teoria é provada pelas várias erupções vulcânicas. Tal como todas as outras plantas, o fitoplâncton absorve dióxido de carbono surgindo a ideia de "cultivar" os oceanos com ferro para que estes aumentem a sua capacidade de absorção de CO2. Apesar de ter eficácia comprovada desconhece-se os efeitos desta técnica nos cada vez mais frágeis ecossistemas marinhos.

Pessoalmente não considero que nenhum destes projectos seja a solução em si mas apenas um plano de recurso como afirmam muitos cientistas. A solução passa por parar a desflorestação, criar reservas naturais terrestres e marinhas e fazer uma fiscalização efectiva nas mesmas, remodelar as áreas urbanas e industriais florestando as mesmas, apostar fortemente na eficiência energética, investir em fontes de energia renovável com especial ênfase em projectos locais e continuar a investigação em melhorar a nossa mobilidade, rumo a uma alternativa sustentável. Estes são para mim, alguns passos essenciais para encarar o problema de "frente" e tentar resolvê-lo.

Não prevejo grande sucesso para a ideia dos aspersores visto ser demasiado complicado construir e manter um milhar deles, especialmente tendo em conta a quantidade de energia que gastam. O mesmo se aplica em relação à aplicação de materiais reflectores em desertos e oceanos. A quantidade é simplesmente demasiada para ser posta em prática. É verdade que o dióxido de enxofre tem a sua eficácia comprovada, contudo sou contra a alteração química da atmosfera pois temo os efeitos nefastos e irreversíveis que tal manipulação possa gerar. O CCS é uma tecnologia prometedora e com vários projectos já implantados com sucesso. Tal como os aspersores, para mim a solução não passa por milhares (milhões?) de máquinas purificadoras absorvendo quantidades cada vez maiores de CO2. Vejo o a aspiração como uma tecnologia de adaptação e de "remediação", ou seja, sou a favor que as centrais termoeléctricas enterrem o CO2 que produzem em poços de gás e petróleo já esgotados até que sejam substituídas por fontes de energia renovável. Sou também a favor que após atingirmos uma sociedade "carbono zero" (parando o aquecimento global) aspiremos algum CO2 para reverter aquilo que já poluímos em demasia. Em relação ao cultivo oceânico, sou completamente contra pelo mesmo motivo que da injecção de dióxido de enxofre na atmosfera. Os efeitos nos ecossistemas marinhos são imprevisíveis e possivelmente irreversíveis. A única solução que me alicia verdadeiramente como "plano B" é o tal escudo solar visto não interferir directamente com o nosso planeta e ser fácil de o desactivar caso se comprove que a sua utilização não é benéfica.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Made in Portugal?

Paulo Lobato lançou-me o desafio de realizar um post sobre a compra de produtos made in Portugal. Questiona-me se acho que ajuda as empresas estrangeiras a fixarem-se em Portugal ou se é uma forma de proteccionismo.

Em primeiro lugar sou a favor de um comércio livre desde que regulado e desde que justo. Cada país/região tem a sua especificidade e não defendo um país que consuma somente aquilo que produz. Tome-se como exemplo a fruta: Portugal deve produzir, consumir e exportar pêra-rocha mas também deve consumir mangas importadas.

Em relação ao comércio justo, defendo um tipo de comércio onde a competitividade não é à custa de dumping social, ou seja à custa de trabalho infantil, salários miseráveis, condições de trabalho nulas, etc. Nesse caso defendo que se deva retirar a competitividade aos produtos, por exemplo, através de taxas alfandegárias elevadas. Defender os produtos nacionais de produtos que não respeitem o comércio justo para mim não é proteccionismo mas sim uma questão de justiça social. Porque a melhor maneira de acabar com o dumping social referido é não comprar os produtos produzidos por essa via. Se não houver procura a oferta deixa de existir.

Não acredito num país "refém" das multinacionais instaladas no mesmo. Se num determinado concurso empresas que tenham uma produção fora de Portugal apresentem uma proposta melhor que empresas estrangeiras com uma produção em Portugal, defendo que se deva optar pela empresa com a melhor proposta. Não devemos ser "chantageados" por empresas estrangeiras que produzam no nosso território, obrigando-nos a absorver a sua produção. Acredito num modelo em que optamos pela melhor proposta mesmo que seja produzida noutro país, da mesma forma que esperaria que um outro país optasse por uma proposta cujos produtos fossem produzidos em Portugal se essa fosse a melhor alternativa.

Introduzindo esta questão no âmbito da UE, acho que é essencial os países demonstrarem solidariedade. É a única via para a continuação da construção europeia e para o aumento dessa mesma realidade. Fomentar o fecho de unidades de produção em alguns países da UE para de seguida abrirem unidades no país do origem penso que só vem agravar a situação que a Europa sofre como um todo. Vem aumentar os sentimentos nacionalistas e vem afastar as populações da cidadania e da identidade europeia. Temos que ser uma UE coesa tanto em períodos prósperos como em períodos depressivos. Já várias vezes defendi a criação de um pacote de estímulos europeu aproveitando os recursos endógenos. Isto sim, traria uma melhoria efectiva em todos os países e não "uma máscara de melhoria" à custa de outros países que supostamente são próximos e cujo sucesso assenta numa relação de inter-depedência.

Existem maneiras de "defender" a produção nacional sem ser proteccionismo? No meu entender sim. Se prevemos que determinado produto vai ser utilizado em grande escala e entendemos que temos capacidade para absorver a produção de uma unidade fabril porque não contactar quem tenha o know-how para criar uma unidade produtiva? Por exemplo os paineis solares. Se o governo planeia conceder incentivos para a aquisição de paineis solares e prevê que a sua procura vá aumentar susbtancialmente porque não criar uma (ou várias) unidades de produção para absorver essa procura invés de importarmos tudo?

Se num determinado concurso existem 2 propostas similares, o facto de uma ser produzida em Portugal pode servir para "desempatar". Ou imagine-se que uma proposta é mais cara mas tem uma cláusula que garante que se for aceite, essa mesma empresa cria uma unidade de produção em Portugal e que garante o seu funcionamento pelo menos durante 10 anos. Após fazer as contas o governo conclui que é melhor pagar mais mas receber essa unidade de produção. À primeira vista parecia ser uma proposta não tão aliciante quanto a outra mas após reflexão dos pós e contras chegou-se à conclusão que seria efectivamente a melhor.

Resumindo, sou a favor do comércio livre (desde que justo) e não acredito que nesta altura, especialmente dentro da UE, a solução seja aumentar o proteccionismo. O comércio livre é no meu entender mais do que negócios. Pode potenciar um aumento das relações diplomáticas entre países e reforçar a cooperação entre os mesmos. Devemos importar o melhor dos outros e exportar o nosso melhor. Contudo existem certas negociações como as referidas acima que penso não se tratarem de proteccionismo mas que defendem os produtos nacionais, sendo as mesmas analisadas caso a caso. E devemos sempre procurar ser competitivos naquilo que produzimos e naquilo que ambicionamos produzir. Não penso que se deva comprar "made in Portugal" só por o ser nem não o comprar somente para defendermos a "globalização do mercado".

Uma vez mais obrigado pela desafio. Qualquer leitor/blogger que queira sugerir um tema de análise/debate está inteiramente à vontade para o fazer.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Blogosfera - I

Recomendo vivamente a leitura dos seguintes artigos:

Aqui, aqui, aqui, aqui e aqui para compreender a crise, as especificidades da mesma na Europa e algumas soluções. Quer se concorde com as opiniões ou não, Carlos Santos faz artigos completos e inteiramente merecedores do tempo de todos nós. No O Valor das Ideias.

Sobre a adrenalina dos comícios e a sua importância, escreve Nuno Pereira no O Espaço Da Inspiração.

E quem não está a par da peixeirada entre Manuela Moura Guedes e Marinho Pinto? Luís Tito está e faz uma análise bastante interessante. O barbeiro em acção na A barbearia do senhor Luís.

Filipe Tourais não é burro nenhum. Que o diga o seu post em relação à "questão" Dias Loureiro. No O país do Burro.

Ao desafio que o Paulo Lobato teve a gentileza de me oferecer no seu Foguetório. Fica a promessa de que até ao final da semana ele será respondido e aguardo por mais!

Uma imagem vale por mil palavras. E este vídeo publicado no O Banqueiro Anarquista simboliza muito bem o porquê de eu ser contra qualquer tipo de tortura.

Boa leitura!

Ciência | Cancro | Esperança

Com este post inauguro o tema da ciência no pensamento alinhado. A revista "Public Library of Science" publicou um estudo de uma equipa de investigadores da Universidade de Oxford (Reino Unido) sobre avanços no combate ao cancro. Esta bela novidade foi me dada pelo Público.

Esta equipa terá criado adenovírus que são capazes de combater o cancro sem efeitos secundários. Estes vírus são já utilizados há algum tempo para destruir as células cancerígenas mas têm fortes efeitos secundários já que esse mesmo vírus se multiplica também nas células saudáveis.

Através de manipulação genética os investigadores de Oxford conseguiram com que o adenovírus se consiga multiplicar somente em células cancerígenas, ou seja, apenas combata as células pretendidas pelos tratamentos. Os testes foram realizados em ratos e abrem novas portas e uma renovada esperança a todos aqueles que sofrem de cancro e mesmo de outras patologias.

Len Seymour (professor e investigador principal do grupo de Oxford) emitiu um comunicado relatando que esta experiência abre um enorme leque de possbilidades nas terapêuticas que utilizem vírus. A "chave" deste processo é manipular o código genético dos vírus para que estes somente se repliquem nas células pretendidas. Segundo Seymour avanços nesta área poderiam ajudar no combate a um leque mais ampliado de doenças e não apenas o cancro.

Para que estes adenovírus sejam adaptados a humanos serão necessários dois anos de investigação sendo que somente no final desse período de tempo é que será possível começar os testes na espécie humana e comprovar a eficácia destes novos vírus.

Pessoalmente aguardo com expectativa e esperança os resultados desta investigação para que se possa solucionar um problema que afecta milhões de pessoas em todo o mundo e que se está a tornar cada vez mais comum. Uma palavra também de apoio e reconhecimento a esta magnífica equipa de Oxford e a todas as outras que dedicam a suas carreiras a procurar intensivamente curas para alguns dos problemas da Humanidade.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Coreia do Norte | Moda dos mísseis?

Após ter explorado a situação do Irão abordo a questão da Coreia do Norte. Tanto o i como o Público noticiam os últimos testes balísticos realizados pelo regime de Kim Jong Il. Supostamente, Pyongyang terá testado mísseis nucleares e outros mísseis com elevada capacidade de destruição. Estes testes são confirmados pelos sísmografos americanos e russos cuja análise leva a crer num "upgrade" da tecnologia nuclear face à verificada nos testes de 2006.

Imediatamente a Comunidade Internacional reagiu condenando os testes um uníssono. O Conselho de Segurança da ONU reuniu ontem e tudo indica que brevemente serão impostas mais sanções à Coreia do Norte. Barack Obama condenou de imediato os testes bem como a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice. Por sua vez, Pyongyang refere que vai continuar a testar mísseis mostrando que está preparada para uma guerra com os EUA e acusando Washington de conspirar contra o seu "Querido Líder".

Tal como relatei em relação ao Irão, não me parece que a Coreia do Norte esteja muito interessada em enfrentar os EUA. Estes testes são um ponto de pressão para exaltar o nome do país e do regime na comunidade internacional bem como para manter vivo o "fantasma" americano, aumentando a coesão nacional. Parece que o lançamento de mísseis pegou moda quando um determinado país quer "correr as bocas do mundo" e quando o regime vigente procurar aprovação para suas acções. Aproveitando o momento de fraqueza dos EUA (a nível militar e económico) é "normal" que estas situações se venham a repetir, especialmente quando o líder norte-coreano já não aparece em público desde Agosto e mês após mês pairam cada vez mais boatos sobre o seu verdadeiro estado de saúde.

Apesar de não considerar a Coreia do Norte como uma ameaça imediata é seguramente imperativo convencer aquele regime a congelar o seu programa nuclear e a tomar uma nova direcção, rumo ao desarmamento e à cooperação com a comunidade internacional. Uma vez mais Obama enfrenta um quebra-cabeças bastante complicado de solucionar.

Actualmente o máximo que pode fazer é condenar os testes, apelar ao seu fim e aumentar as sanções impostas. Contudo se ignorar estes "avisos" arrisca-se a que os testes sejam cada vez mais expressivos e agressivos tornando a situação ainda mais delicada. O que quero dizer é que supostamente não deveríamos alimentar o ego destes regimes porque essa é a sua verdadeira intenção e não fazer ameaças de guerra. Mas se não alimentarmos o seu ego e não lhes conferirmos importância arriscamo-nos a que a situação se torne completamente incontrolável e que a via da diplomacia se mostre cada vez mais distante.

A solução reside na diplomacia directa, com Obama a sentar-se à mesa com os representantes norte-coreanos. Só assim será possível ir acalmando a situação e colocar de novo Pyongyang em negociações com a ONU. E neste caso em particular, até por interesse próprio, o novo "amigo" dos EUA deverá ter uma palavra a dizer e um papel importante a desempenhar (leia-se China).

PS: O Irão nega cooperação nuclear com a Coreia do Norte.