terça-feira, 2 de junho de 2009

Mobilidade | Meios de Transporte

Cada vez mais as populações vivem mais afastadas do seu local de trabalho. As zonas centrais das grandes cidades são demasiado caras e os subúrbios estão geralmente ocupados pelas populações de fracos recursos, constituindo frequentemente problemas de ordenamento do território e de segurança pública. A classe média tende assim a afastar-se cada vez mais do centro na sua busca de qualidade de vida. Formam-se assim centros urbanos que funcionam como autênticos "dormitórios". Estes centros são constituídos na sua quase totalidade por edifícios habitacionais, não existindo comércio nem outros edifícios públicos ou privados que sejam prestadores de serviços. De dia parecem cidades fantasma pois não existem actividades que fixem pessoas nestes locais.

Com a multiplicação destes centros torna-se necessário fornecer vias de comunicação para a deslocação diária casa-emprego e vice-versa. Infelizmente, na maioria dos casos, a única forma de nos deslocarmos é de automóvel (exemplo aqui). Essa quase total dependência do transporte privado provoca graves problemas como a elevada emissão de gases poluentes, poluição sonora, acidentes de viação, congestionamento do trânsito, perda da qualidade de vida e uma excessiva concentração de veículos ligeiros provocando uma necessidade crescente de terrenos para parqueamento e um congestionamento da cidade como um todo. É urgente procurar novas alternativas e acima de tudo, torná-las atractivas para que tenham uma forte adesão. De seguida, vou analisar os vários meios de transporte e a sua evolução. Todos têm a sua utilidade e tal como nas energias renováveis, a "solução" será uma combinação de todos, potenciando as suas vantagens e construindo uma mobilidade segura, rápida, cómoda, barata e sustentável. Analisarei não só os transportes capazes de fazer a deslocação casa-trabalho mas todos aqueles que ligam os vários pontos do mundo, seja em em curtas, médias ou longas distâncias.

Comboio - Um meio de transporte cada vez mais versátil e que se apresenta como uma solução para vários problemas. Não depende das condições de tráfego e é capaz de transportar bastantes pessoas. Comboios urbanos e suburbanos conseguem fazer as ligações casa-emprego sem congestionar as cidades e sem toda a poluição associada. Poderia ser mais utilizado no transporte de mercadorias. Para se tornar sustentável necessita que a produção eléctrica para o seu funcionamento provenha de fontes renováveis. É necessário investir também na segurança e na competitividade económica. A grande desvantagem do comboio é a sua fraca mobilidade, ou seja, não se consegue adaptar a rotas alternativas, estando limitado às linhas ferroviárias. Para compensar este factor é necessário investir no transporte intermodal para que as estações ferroviárias disponham de outros meios de transporte (táxis, metro, autocarros, etc.) capazes de fazer as ligações mais específicas. Com a proliferação dos comboios de alta-velocidade poderia ser rápido e cómodo viajar por toda a Europa evitando os check-in e check-out que os aeroportos nos obrigam. Na minha opinião, este meio de transporte deveria ser privilegiado a nível local, regional, nacional e europeu tanto no transporte de mercadorias como de passgeiros. Uma mobilidade do futuro e com vista a resolver os problemas associados à mesma terá de englobar o comboio como uma solução principal.

Avião - O mais rápido dos meios de transporte. Excelente para transportar pessoas em viagens de longa distância e para transportar mercadorias perecíveis. Provavelmente o mais díficil de tornar sustentável tendo em conta a sua enorme necessidade de energia, contudo já existem motores de nova geração que consomem menos 15% que os actuais o que é um excelente primeiro passo. É necessário apostar fortemente na investigação para que os avioes se tornem cada vez mais rápidos e gastem cada vez menos energia o que consequentemente os tornará cada vez mais económicos. Penso que actualmente este meio de transporte poderia perder alguma da sua importância especialmente nos vôos domésticos e europeus em detrimento do ferroviário. O avião é insubstituível mas pode ser "fintado" em médias distâncias, continuando com a sua primazia no longo curso e numa crescente banalização da sua utilização consequência de preços cada vez mais atractivos e de uma burocracia cada vez menor. É necessário apostar na evolução do transporte aéreo mas numa perspectiva de mobilidade futura penso que este meio de transporte terá de perder "peso".

Barco - A grande vantagem do transporte marítimo é a sua gigantesca capacidade de carga. Consegue transportar enormes quantidades de mercadorias de uma ponta do globo para a outra. Nesta perspectiva não vejo, num futuro próximo, qualquer "concorrente" para este meio de transporte. Não havendo possibilidade de o substituir é necessário adaptá-lo à mobilidade futura. Tal como no avião, existem tecnologias que permitem consumir menos energia mas em relação ao comboio e ao automóvel, o barco continua bastante atrás numa óptica de mobilidade sustentável. A solução é a contínua aposta na investigação. Penso que é necessário as trocas comerciais se processarem mais próximas, tentando diminuir a necessidade de barcos de elevado porte. Contudo as trocas intercontinentais terão tendência para aumentar sendo necessário construir barcos cada vez maiores e que consumam cada vez menos energia. O desenvolvimento dos portos e sua ligação com outros meios de transporte é também um sector essencial para o desenvolvimento do transporte marítimo.

Automóvel - É o mais utilizado e aquele que acarreta maiores problemas. Todos nós nos temos que mentalizar que uma mobilidade futura compreende uma forte redução na quantidade de automóveis utilizados. Não é sustentável de nenhum ponto de vista cada um de nós se deslocar diariamente de automóvel, percorrendo distâncias cada vez maiores. Vejo o futuro do automóvel como um meio de transporte que utilizamos em casos de excepção e não como um meio de transporte para as deslocações rotineiras, independentemente da distância percorrida. É necessário apostar mais nos transportes colectivos como o autocarro e o comboio e desincentivar a utilização do automóvel. Sou a favor de medidas como portagens à entrada das cidades desde que existam alternativas e desde que os transportes colectivos sejam seguros, cómodos e económicos. É preciso estudar as alternativas, implementá-las e de seguida fomentá-las, incentivando a sua utilização e desincentivando a utilização do automóvel. Só reunindo todas estas condições é que será possível realizar mudanças em grande escala. A redução do número de automóveis particulares não se esgota apenas na utilização de transportes alternativas. Iniciativas como o car-sharing devem ser apoiadas e por fim, deve-se desenvolver uma tecnologia sustentátel em torno deste meio de transporte. É importante reduzir o seu número mas é igualmente importante que os existentes não poluam, e nesse campo, o automóvel apresenta-se numa estado avançado de desenvolvimento estando a sua massificação para breve.

Bicicleta - A utilização de meios de transporte como a bicicleta são completamente ignorados como uma solução para a mobilidade sustentável. Numa mobilidade do futuro o uso de bicicletas e outros meios de transporte similares (por exemplo a Segway) têm de ser encarados com seriedade e o seu uso massificado tem de ser promovido. É necessário uma autêntica "corrida" à construção de ciclovias dotando todos os centros urbanos de poderosas ligações. É necessário também um forte investimento na educação das populações para sensibilizar as mesmas em torno das várias vantagens que este tipo de transporte encerra (vantagens económicas, sociais, ambientais, etc.). Para assegurar o sucesso da massificação do uso da bicicleta nas deslocações diárias é necessário dotar as cidades e os outros meios de transporte de equipamentos que visem o seu transporte e parqueamento. Uma mobilidade futura tem de assegurar que os autocarros e os comboios conseguem transportar bicicletas e que as cidades têm locais para as parquear. Um veículo que actualmente se ignora encerra em si uma grande solução para a mobilidade futura.

Resumindo, a actual mobilidade não é sustentável de nenhum ponto de vista e é necessário alterar a realidade. Nenhum meio de transporte pode ser substituído na sua totalidade mas o seu peso tem de ser alterado e em todos eles é possível desenvolver tecnologias que levem a melhorias. Melhorias essas que podem começar em cada um de nós e com a forma como nos deslocamos pois devemos ser os primeiros a procurar soluções e a exigi-las caso não existam. A mobilidade é essencial para a nossa sociedade e reflectirá o futuro que queremos construir.

4 comentários:

  1. Daniel,

    Por exemplo, a requalificação urbana seria um bom contribuinte para a redução da utilização do automóvel em Lisboa (e noutras cidades).
    Colocar as pessoas novamente no centro da cidade evitava que tivessem de se deslocar.

    um abraço

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  2. Paulo,

    Para mim a requalificação urbana deveria ser uma prioridade. Pelo motivo que enunciaste mas por muitos mais. Possibilitaria fornecer habitações com rendas controladas a pessoas de fracos recursos e a jovens a iniciar a sua vida "activa". Mudava certamente a paisagem nos centros urbanos e resolvia vários problemas ao mesmo tempo. Esta reconstrução poderia ser já realizada numa perspectiva de futuro, nomeadamente na incorporação de sistemas de microgeração, inclusão de materiais reciclados, etc.

    Abraço.

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  3. Daniel,
    Dei o exemplo da requalificação urbana para mostrar a importância que tem nos transportes.
    Há muitos mais benefícios que justificam a urgência da sua execução. Como medida de combate à crise, e por questões de racionalidade económica, apontei - em tempos idos - algumas desses benefícios aqui.
    Mas há mais!

    um abraço,
    Paulo

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  4. Paulo,

    Concordo plenamente. O teu texto sobre Lisboa especificamente faz um excelente resumo das razões para seguirmos a via da recuperação urbana. Só de acrescentar que as populações de fracos recursos agradecem também :) É neste tipo de investimentos que falo quando observo que Portugal tem um grande "potencial" de obras úteis e que mereciam um ambicioso plano de estímulos.

    Abraço,
    Daniel.

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