Paulo Lobato lançou-me o desafio de realizar um post sobre a compra de produtos made in Portugal. Questiona-me se acho que ajuda as empresas estrangeiras a fixarem-se em Portugal ou se é uma forma de proteccionismo.
Em primeiro lugar sou a favor de um comércio livre desde que regulado e desde que justo. Cada país/região tem a sua especificidade e não defendo um país que consuma somente aquilo que produz. Tome-se como exemplo a fruta: Portugal deve produzir, consumir e exportar pêra-rocha mas também deve consumir mangas importadas.
Em relação ao comércio justo, defendo um tipo de comércio onde a competitividade não é à custa de dumping social, ou seja à custa de trabalho infantil, salários miseráveis, condições de trabalho nulas, etc. Nesse caso defendo que se deva retirar a competitividade aos produtos, por exemplo, através de taxas alfandegárias elevadas. Defender os produtos nacionais de produtos que não respeitem o comércio justo para mim não é proteccionismo mas sim uma questão de justiça social. Porque a melhor maneira de acabar com o dumping social referido é não comprar os produtos produzidos por essa via. Se não houver procura a oferta deixa de existir.
Não acredito num país "refém" das multinacionais instaladas no mesmo. Se num determinado concurso empresas que tenham uma produção fora de Portugal apresentem uma proposta melhor que empresas estrangeiras com uma produção em Portugal, defendo que se deva optar pela empresa com a melhor proposta. Não devemos ser "chantageados" por empresas estrangeiras que produzam no nosso território, obrigando-nos a absorver a sua produção. Acredito num modelo em que optamos pela melhor proposta mesmo que seja produzida noutro país, da mesma forma que esperaria que um outro país optasse por uma proposta cujos produtos fossem produzidos em Portugal se essa fosse a melhor alternativa.
Introduzindo esta questão no âmbito da UE, acho que é essencial os países demonstrarem solidariedade. É a única via para a continuação da construção europeia e para o aumento dessa mesma realidade. Fomentar o fecho de unidades de produção em alguns países da UE para de seguida abrirem unidades no país do origem penso que só vem agravar a situação que a Europa sofre como um todo. Vem aumentar os sentimentos nacionalistas e vem afastar as populações da cidadania e da identidade europeia. Temos que ser uma UE coesa tanto em períodos prósperos como em períodos depressivos. Já várias vezes defendi a criação de um pacote de estímulos europeu aproveitando os recursos endógenos. Isto sim, traria uma melhoria efectiva em todos os países e não "uma máscara de melhoria" à custa de outros países que supostamente são próximos e cujo sucesso assenta numa relação de inter-depedência.
Existem maneiras de "defender" a produção nacional sem ser proteccionismo? No meu entender sim. Se prevemos que determinado produto vai ser utilizado em grande escala e entendemos que temos capacidade para absorver a produção de uma unidade fabril porque não contactar quem tenha o know-how para criar uma unidade produtiva? Por exemplo os paineis solares. Se o governo planeia conceder incentivos para a aquisição de paineis solares e prevê que a sua procura vá aumentar susbtancialmente porque não criar uma (ou várias) unidades de produção para absorver essa procura invés de importarmos tudo?
Se num determinado concurso existem 2 propostas similares, o facto de uma ser produzida em Portugal pode servir para "desempatar". Ou imagine-se que uma proposta é mais cara mas tem uma cláusula que garante que se for aceite, essa mesma empresa cria uma unidade de produção em Portugal e que garante o seu funcionamento pelo menos durante 10 anos. Após fazer as contas o governo conclui que é melhor pagar mais mas receber essa unidade de produção. À primeira vista parecia ser uma proposta não tão aliciante quanto a outra mas após reflexão dos pós e contras chegou-se à conclusão que seria efectivamente a melhor.
Resumindo, sou a favor do comércio livre (desde que justo) e não acredito que nesta altura, especialmente dentro da UE, a solução seja aumentar o proteccionismo. O comércio livre é no meu entender mais do que negócios. Pode potenciar um aumento das relações diplomáticas entre países e reforçar a cooperação entre os mesmos. Devemos importar o melhor dos outros e exportar o nosso melhor. Contudo existem certas negociações como as referidas acima que penso não se tratarem de proteccionismo mas que defendem os produtos nacionais, sendo as mesmas analisadas caso a caso. E devemos sempre procurar ser competitivos naquilo que produzimos e naquilo que ambicionamos produzir. Não penso que se deva comprar "made in Portugal" só por o ser nem não o comprar somente para defendermos a "globalização do mercado".
Uma vez mais obrigado pela desafio. Qualquer leitor/blogger que queira sugerir um tema de análise/debate está inteiramente à vontade para o fazer.
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Já sabes que tenho alguma tendência para o proteccionismo... mas desta vez concordo contigo.
ResponderEliminarEmbora concorde que devam existir por exemplo campanhas divulgadas mesmo pelo Estado para propagandear os produtos nacionais.
Obrigar as pessoas a comprar produtos nacionais: não.
Dar regalias ou favorecer a criação de empresas nacionais e respectivos produtos: sim.
Quanto à tua perspectiva do último parágrafo relativa à UE, e fugindo talvez um pouco ao tema, não me parece bem essa história de reforçar a cooperação entre os estados-membros... tem muito que se lhe diga porque os outros Estados não se preocupam se tu tens um produto melhor ou não, vão continuar a querer competir contigo e actualmente acho que cada estado (falando dos da ue) se preocupa apenas consigo e com os outros que lhe possam ser ou vir a ser úteis.
Mas isso é outra questão... penso é que uma coisa é não se ser proteccionista, outra é não o ser porque a UE é uma união toda bonita em que todos são amigos e todos mandam e dentro da qual temos de cooperar mesmo perante a forma com esta se apresenta e constitui actualmente.
Daniel,
ResponderEliminarAgradeço a grandeza demostrada em aceitar um desafio de alguém que não conhece. O resultado, é um estímulo para todos os que acreditam que o mundo pode ser um lugar melhor. Oportunamente irei escrever acerca de outros aspectos que penso terem tb alguma importância.
Um abraço
Paulo Lobato
Marta,
ResponderEliminarExistem actualmente campanhas publicitárias que promovem marcas nacionais e isso é outra forma de promover e defender os produtos nacionais. Em relação à UE eu defendo que é crucial não entrar em programas nacionalistas e abandonar os países da união. Isso só vem fragilizar ainda mais a UE o que em última instância não será bom para nenhum estado-membro. Hoje um determinado país pode "ganhar" com o fecho de uma unidade de produção para regressar ao seu país de origem mas a longo prazo isso trará repercussões negativas à união como um todo. União essa que necessita de se reforçar numa altura de crise e não ficar fragilizada, até pelas várias relações de interdependência já constituídas.
Paulo,
ResponderEliminarEu é que agradeço. Escrevo por gosto e como se costuma dizer "quem corre por gosto não se cansa".
Esteja sempre à vontade para sugerir temas e para os debater e fazer as suas análises. Fico à espera desses posts que certamente vão enriquecer toda a blogosfera :)
Abraço,
Daniel.
Daniel,
ResponderEliminarPrometido é devido. A coisa não me correu bem! Talvez na próxima...
um abraço
Paulo
Paulo,
ResponderEliminarCorreu bem sim! Analisaste o tema de uma perspectiva individual que é talvez a mais importante por termos poder decisório. Pessoalmente prefiro comprar Made in Portugal sempre que possível mas também não é uma "bandeira" minha por assim dizer.
Encho-me de orgulho quando vou a feiras e eventos e verifico que a quase totalidade dos produtos é produzida em Portugal. Produtos gastronómicos, têxteis, artesanato, etc. E acima de tudo, produtos com elevada qualidade e com um preço perfeitamente normal para o artigo em questão.
Abraço,
Daniel.