Além do Irão, outro foco de tensão nas relações internacionais é a Coreia do Norte. Após o último ensaio nuclear, realizado a 25 de Maio deste ano e analisado aqui, o regime de Pyongyang voltou a despertar as atenções da comunidade internacional como não fazia desde 2006, data do anterior ensaio nuclear. A reacção foi imediata e as vozes convergiram no sentido de condenar este ensaio.
Previa-se que o Conselho de Segurança da ONU tomasse medidas concretas e assim aconteceu. Foram aprovadas novas sanções a aplicar à Coreia do Norte. Os sistemas de inspecções aéreas, marítimas e terrestres de cargas destinadas ou provenientes daquele país serão reforçados bem como o embargo de armas e as sanções financeiras agravadas o que se traduz num congelamento de contas bancárias de entidades e indivíduos. A administração Bush tomou no passado uma medida que congelou as contas bancárias norte-coreanas fora do país, medida essa que levou a um "retrocesso" na posição de Pyongyang. Estas medidas visam não só condenar o teste nuclear como tentar impedir que a Coreia do Norte desenvolva ainda mais a sua tecnologia atómica com fins militares já que os especialistas apontam que este país se está a "mover" nesse sentido, enriquecendo urânio e processando barras de combustível para obter plutónio. Recordo que o teste de Maio passado revelou uma potência maior que aquele realizado em 2006, de acordo com alguns especialistas, confirmando assim um desenvolvimento significativo deste tipo de tecnologia.
O enviado de Obama à Coreia do Norte revelou que o presidente dos EUA se encontra disponível para negociar e mediar a situação recorrendo à diplomacia. Tal pode acontecer com os parceiros envolvidos, ou seja, negociações conjuntas com a Coreia do Sul, Japão, Rússia e China ou mesmo directamente entre os dois países.
Através de um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi conhecida a reacção da Coreia do Norte face às novas sanções impostas pela ONU. Pyongyang é bem explícita referindo que nunca irá renunciar às suas ambições atómicas e que o seu plutónio será utilizado para fins militares. Adverte ainda que considera estas sanções como um "acto de guerra". Além da sua reacção agressiva, o governo norte-coreano refere ainda que dispõe da tecnologia necessária para continuar a progredir nos seus objectivos militares e que cerca de um terço das barras de combustível utilizadas para produzir plutónio já foram reprocessadas.
Pyongyang entendeu estas sanções como uma "provocação" e há quem alerte para a realização de novos testes, nomeadamente com mísseis cujo alcance abrange os EUA, como forma de responder às mesmas. É importante colocar uma "tampa" na degradação desta relação extremamente complicada. A comunidade internacional não se pode dar ao luxo de seguir numa espiral de provocações e sanções provocando a erosão da situação. Só o tempo dirá se estas sanções irão surtir o efeito desejado mas para já, é perfeitamente plausível colocar o cenário em que a Coreia do Norte acelera ainda mais o desenvolvimento nuclear e programe para breve novos testes com vários tipos de mísseis. Penso que o facto de Obama ter deixado claro que a sua administração está disponível para negociar foi extremamente importante para formar essa tal "tampa". As negociações a ocorrerem serão realizadas muito provavelmente com os outros 4 parceiros. É difícil escolher entre agravar as sanções e arriscar enfurecer Pyongyang ou "ignorar" os avisos norte-coreanos e Pyongyang entender tal facto como um "sinal verde" para continuar a sua política de desenvolvimento atómico com fins militares. E nesta situação, a opinião dos parceiros, em especial da China, ditará provavelmente o futuro dos acontecimentos.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Coreia do Norte - degradação do ambiente internacional
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Pyongyang só mudará de atitude quando a china pensar que a Coreia do Norte lhe é uma ameaça, neste momento, aquela age como se esta fosse uma protegida... só ainda não percebi bem porquê.
ResponderEliminargeocrusoe,
ResponderEliminarObama tem mantido boas relações com Pequim e é bem conhecida a relação de interdependência entre estas duas potências. Não sei até que ponto isto terá efeito na posição chinesa mas neste caso a China terá mais a dizer que os próprios EUA.
Cumprimentos.
Tal como já defendi num post anterior sobre a Coreia do Norte, a China desenrolará um papel fundamental ao desbloquear um consenso no Conselho de Segurança da ONU apadrinhando uma intervenção naquele país. Neste momento, nem o Irão, a Síria, os estados socialistas da América Latina ou mesmo os grupos terroristas, ousaram ir tão longe no confronto com os EUA. A Coreia do Norte ameaça, age irresponsavelmente contra tudo e contra todos e afirma, sem problemas, que o seu programa nuclear se destina a fins militares. Nenhuma potência pode tolerar esta situação. A China, com o tempo, começará a abordar a Coreia do Norte de forma agressiva até alinhar com EUA e Rússia. Há inúmeros cenários, mas a continuação desta atitude é incompativel até com a boa vontade de Obamas e similares...
ResponderEliminarCBA,
ResponderEliminarInfelizmente tendo a concordar consigo. Obama mostrou-se disponível para negociar mas essa disponibilidade só contribuirá para a resolução da situação se a Coreia do Norte quiser. E não me parece que o regime de Pyongyang esteja interessado em negociar com a Casa Branca, ainda menos após este agravamento das sanções aplicadas pela ONU.
Uma posição forte da China contribuirá muito mais que as sanções da ONU e a condenação dos ensaios nucleares por parte da comunidade internacional. Caso a situação se agrave essa deverá ser a estratégia dos EUA que fortalecem dia após dia, a relação sino-americana. A China prova assim que a sua importância está bem além do campo económico.
Cumprimentos,
Daniel.
Prova que é importante numa área em que tem, por força, de se tornar importante. Em termos geoestratégicos, a China tende a desenvolver um papel de líder regional numa lógica de aproximação aos EUA. Talvez vejamos a China a intervir no Myanmar, por exemplo, e noutros países cujos sistemas políticos possam ser ou tornar-se instáveis, como a Tailândia, o Laos, o Vietnam ou o Cambodja. Além disso, na sua fronteira Este, os ex-estados da URSS são uma mina de petróleo e gás natural, em que a China tem sempre uma palavra a dizer apesar da tradicional aproximação a Moscovo. Os países africanos são outra história bem diferente: a China investe em força em exemplos tão básicos como Angola, de onde, certamente, espera tirar benefícios a M/L prazo (e a indústria de armamento aproveita a boleia...). Há tanta coisa e tantas situações que não dá para as enunciar todas. A China quer ser uma potencia regional influenciando politicamente a região que a circunda; e quer ser uma potencia mundial através do seu poderio económico e financeiro (compra de dívida americana e produtos altamente competitivos nos mercados da OCDE são exemplos).
ResponderEliminarCBA,
ResponderEliminarNão sei se acompanha O Valor das Ideias de Carlos Santos. Há algum tempo, ele fez um post muito bom acerca do facto da China se ter tornado o maior doador internacional nos países que a envolvem, ou seja, tornou-se o principal doador aos países pobres asiáticos. Ao realizar estas doações e investir em monopólios como electricidade, água, etc. a China está na prática a controlar estes países. Desta forma garante a hegemonia regional e uma crescente importância mundial. Pela sua população e pela sua dimensão geográfica, Pequim sempre foi uma potência. Este crescimento económico veio "despertar" toda a força da China.
A compra de dívida americana é algo que os EUA têm de ter bastante em conta. A Casa Branca não pode fazer grandes movimentos sem o consentimento chinês. Obama tem dado grande ênfase à relação sino-americana e tal não é por acaso. É notório que até os EUA estão actualmente sob uma grande influência chinesa, apesar da China também ter grandes interesses que se mantenha uma relação saudável.
Cumprimentos,
Daniel.