terça-feira, 26 de maio de 2009

Coreia do Norte | Moda dos mísseis?

Após ter explorado a situação do Irão abordo a questão da Coreia do Norte. Tanto o i como o Público noticiam os últimos testes balísticos realizados pelo regime de Kim Jong Il. Supostamente, Pyongyang terá testado mísseis nucleares e outros mísseis com elevada capacidade de destruição. Estes testes são confirmados pelos sísmografos americanos e russos cuja análise leva a crer num "upgrade" da tecnologia nuclear face à verificada nos testes de 2006.

Imediatamente a Comunidade Internacional reagiu condenando os testes um uníssono. O Conselho de Segurança da ONU reuniu ontem e tudo indica que brevemente serão impostas mais sanções à Coreia do Norte. Barack Obama condenou de imediato os testes bem como a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice. Por sua vez, Pyongyang refere que vai continuar a testar mísseis mostrando que está preparada para uma guerra com os EUA e acusando Washington de conspirar contra o seu "Querido Líder".

Tal como relatei em relação ao Irão, não me parece que a Coreia do Norte esteja muito interessada em enfrentar os EUA. Estes testes são um ponto de pressão para exaltar o nome do país e do regime na comunidade internacional bem como para manter vivo o "fantasma" americano, aumentando a coesão nacional. Parece que o lançamento de mísseis pegou moda quando um determinado país quer "correr as bocas do mundo" e quando o regime vigente procurar aprovação para suas acções. Aproveitando o momento de fraqueza dos EUA (a nível militar e económico) é "normal" que estas situações se venham a repetir, especialmente quando o líder norte-coreano já não aparece em público desde Agosto e mês após mês pairam cada vez mais boatos sobre o seu verdadeiro estado de saúde.

Apesar de não considerar a Coreia do Norte como uma ameaça imediata é seguramente imperativo convencer aquele regime a congelar o seu programa nuclear e a tomar uma nova direcção, rumo ao desarmamento e à cooperação com a comunidade internacional. Uma vez mais Obama enfrenta um quebra-cabeças bastante complicado de solucionar.

Actualmente o máximo que pode fazer é condenar os testes, apelar ao seu fim e aumentar as sanções impostas. Contudo se ignorar estes "avisos" arrisca-se a que os testes sejam cada vez mais expressivos e agressivos tornando a situação ainda mais delicada. O que quero dizer é que supostamente não deveríamos alimentar o ego destes regimes porque essa é a sua verdadeira intenção e não fazer ameaças de guerra. Mas se não alimentarmos o seu ego e não lhes conferirmos importância arriscamo-nos a que a situação se torne completamente incontrolável e que a via da diplomacia se mostre cada vez mais distante.

A solução reside na diplomacia directa, com Obama a sentar-se à mesa com os representantes norte-coreanos. Só assim será possível ir acalmando a situação e colocar de novo Pyongyang em negociações com a ONU. E neste caso em particular, até por interesse próprio, o novo "amigo" dos EUA deverá ter uma palavra a dizer e um papel importante a desempenhar (leia-se China).

PS: O Irão nega cooperação nuclear com a Coreia do Norte.

4 comentários:

  1. Também penso que seja mais para "se mostrar" que a Coreia esteja a gerar todo este alarido.

    Não creio que tivessem qualquer hipótese numa guerra contra os EUA e certamente não o procuram realmente.

    Mas é como dizes, e há malucos para tudo, de maneira que o melhor é mesmo o diálogo directo.

    Continuar a alimentar-lhes o ego, como dizes, seria uma hipótese mas estariam sujeitos a que qualquer dia os que mandam lá para a Coreia do Norte(nomes é que já não sei...) acordem mal dispostos e decidam utilizar o seu alegado potencial.
    Nestes sítios normalmente é só um grupo restrito de pessoas que mandam, decidem e agem (nao que em muitos outros paises democráticos nao seja assim também...) e sabe-se lá quantos doidos há por lá...

    Bom post, Daniel.

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  2. Marta,

    Concordo. Porque apesar de no presente não considerar a Coreia do Norte como uma verdadeira ameaça o futuro é bastante imprevisível. Ainda para mais com a questão da sucessão que poderá levar a uma grande instabilidade no regime. Seguramente que ninguém quer um regime instável a aumentar consideravelmente a sua tecnologia e potencial belicista.

    Veremos como Obama e a ONU se comportarão face à questão e veremos se a Coreia do Norte está interessada em trilhar um caminho lado a lado com a comunidade internacional.

    Cumprimentos.

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  3. A grande ameaça nuclear não é a Coréia do Norte, e sim os Estados Unidos, pois os Estados Unidos:
    1. Foram o primeiro país a realizar testes com bombas atômicas, em 1945;
    2. Foram o único país a utilizar armas nucleares contra população civil (Hiroshima e Nagasaki), em 1945, que causaram a morte imediata de cerca de 400 mil pessoas e a morte de outras 200 mil por radioatividade, ao longo dos anos;
    3. Desde as bombas atômicas lançadas sobre o Japão, já lançaram outras 1.032, como testes para aperfeiçoarem o arsenal nuclear e utilizá-lo a qualquer momento numa eventual guerra contra os países do "Eixo do Mal" (a lista feita por George W. Bush inclui a inimiga Coréia do Norte);
    4. Já invadiram a Coréia uma vez e realizaram massacres neste país, entre 1950 e 53, onde morreram cerca de 3 milhões de pessoas, a maioria camponeses;
    5. Após a Guerra da Coréia, dividiram o país e criaram uma ditadura militar fantoche no Sul, sustentada militarmente por Washington;
    6. Possuem tropas de ocupação na Coréia do Sul, desde 1948, em bases militares instaladas na divisa com a Coréia do Norte (os Estados Unidos possuem 865 bases militares espalhadas pelo mundo, sem contar as bases do Iraque e Afeganistão) e 12 mil soldados norte-americanos prontos para uma nova investida contra o comunismo. Estas bases contam com um aparato militar ultra-moderno, que inclui armas químicas e biológicas produzidas no laboratório de Maryland, além das armas nucleares.

    Os Estados Unidos e a mídia que apóia o imperialismo acusam a Coréia do Norte de violar o Tratado de Proibição de Testes Nucleares, mas não diz que os Estados Unidos se recusam a ratificar a assinatura do tal Tratado, o que os transformam numa ameaça ao mundo, como sempre foram (as recentes guerras contra a Iugoslávia, Iraque e Afeganistão são apenas alguns exemplos para quem tem memória curta).

    A República Democrática da Coréia está apenas se protegendo! Este país nunca incomodou ninguém, nunca lançou bombas sobre ninguém, nunca assassinou civis, e em toda a sua história, nunca invadiu um outro país. As suas tropas nunca combateram em outro lugar, senão em território coreano, para expulsar os invasores estrangeiros.

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  4. Anónimo,

    Não digo que os EUA devam ter armas nucleares. Na minha opinião nenhum país deveria ser portador desse tipo de tecnologia. Quando falo em ameaça falo porque supostamente os EUA não são uma ameaça para a Europa agora e será díficil de o serem num futuro próximo. Em relação à Coreia do Norte mantenho as minhas reservas não pelo regime vigente mas sim pelo que poderá suceder no futuro e não é aconselhável que determinadas facções/pessoas tenha acesso a uma tecnologia belicista tão destruidora.

    Para mim a solução reside na diplomacia directa rumo a uma nova era de cooperação. Classificar a Coreia do Norte como parte integrante do "Eixo do Mal" só vem alimentar os ódios existentes e dar uma desculpa por assim dizer, para o regime de Pyongyang se "proteger" contra as ameaças.

    Em relação à comunidade internacional, é claro que existem pressões e manipulações, sendo o principal arquitecto os EUA. A guerra do Iraque ilustra bem quem pode e quem não pode entrar em conflitos armados mesmo sem o apoio dessa mesma comunidade. Da mesma forma que actualmente a UE é uma câmara de ressonância dos interesses da Alemanha. Este tipo de situações não beneficia o mundo como um todo e seguramente que a sucessiva troca de argumentos perjurativos e escalada de pressões também não. A solução passa por uma cooperação onde os EUA deixem de ver a Coreia do Norte como um inimigo e onde a Coreia do Norte já não tenha necessidade de se "proteger" e de incutir medo aos seus inimigos parando com o desenvolvimento de armas nucleares.

    Obrigado pelo sua participação e opinião!

    Cumprimentos,
    Daniel.

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