domingo, 3 de janeiro de 2010

África - A corrupção como um entrave ao desenvolvimento

O continente africano tem, infelizmente, séculos de histórias tristes para contar. Desde o tempo dos Descobrimentos e respectiva escravatura dos nativos africanos, à forma como eram tratados já depois da abolição da escravatura por parte dos países colonizadores até aos dias hoje, África tem um sem fim de problemas associados à exploração de todo um povo para benefício de uns quantos.

A realidade actual não é muito diferente e quando pensamos em corrupção e ditadores vem-nos logo à cabeça uma mão cheia de chefes de estado africanos. Desde Robert Mugabe no Zimbabwe, Qaddafi na Líbia, Museveni no Uganda até ao próprio José Eduardo dos Santos em Angola, entre tantos outros. O número de ditadores (de forma mais ou menos dissimulada) em África corresponderá quase ao número total de países. A pobreza e a miséria são o "prato do dia" num continente com riquezas enormes.

São estes ditadores inumanos aliados a um total alheamento real por parte dos estados ditos desenvolvidos que impedem o desenvolvimento do continente africano. Homens que governam países onde todos os dias morrem milhares de pessoas à fome enquanto os mesmos estão nas suas luxuosas moradias ou viajam nos seus jactos particulares. Chefes de estado que não têm vergonha das disparidades que existem no seu território. Que não têm o mínimo remorso em explorar os seus compatriotas. Que preferem comprar armas a comprar pão.

Enquanto estes chefes de estado governarem é impossível combater a pobreza de uma forma verdadeiramente eficaz. É impossível alcançar a paz. É impossível lutar pela igualdade de direitos, pelo acesso à educação, etc. Quando alguém que governa não se preocupa minimamente com os problemas dos governados como é que é possível resolver os mesmos? Enquanto esta for a realidade de África o verdadeiro desenvolvimento humano vai continuar a ser nulo ou muito ténue. Porque mesmo que um país cresça economicamente é preciso ver o que melhorou na vida das pessoas. Não é somente para o PIB que devemos olhar, especialmente nestes países. Mais importante que ver estatísticas sobre o crescimento económico dos países africanos é ver o que pode ser feito para os desenvolver verdadeiramente e não para continuarem numa longa e sem fim exploração, seja por parte de estrangeiros seja pelos seus "compatriotas".

Enquanto existir este tipo de corrupção (se é que a isto se pode chamar corrupção) em África não vão existir planos que sucedam verdadeiramente. Os países ricos podem continuar a mandar milhares de milhões todos os anos em ajuda humanitária que a vida real dos povos africanos pouco ou nada vai melhorar. Podemos todos continuar a doar a organizações não-governamentais que tentam aliviar alguns problemas mas nunca os vão conseguir resolver. Podemos fazer apelos, aplicar sanções económicas e muitas outras coisas mas África vai continuar a ser África tal como a conhecemos. Estima-se que nos últimos 50 anos África tenha recebido 2,3 biliões de dólares em ajudas e que no mínimo 60% desse dinheiro tenha sido desviado pelas elites corruptas. Podemos continuar a enviar "peixes" para África mas se nunca os ensinarmos a "pescar" tudo o que conseguimos é ir adiando o problema. E as elites corruptas de África não parecem querer que os seus povos aprendam a pescar.

Infelizmente é esta fonte "inesgotável" de riqueza do continente africano que nas mãos de uns quantos homens se tem transformado numa verdadeira fonte de pesadelos para cerca de mil milhões de pessoas.

6 comentários:

  1. Também existe a """teoria""" de que os próprios governantes são corrompidos para fazer com que o país continue pobre e as suas matérias primas também.

    Também existe a corrupção da classe baixa, em que tens de pagar para tudo. Tens de pagar ao guarda para ires pedir emprego, tens de pagar aos recepcionistas e seguranças do hospital para seres atendido. Tens de pagar um suborno aos vizinhos para fazeres uma casa num bairro de lata, tens de pagar ao governante um suborno para ficares lá, tens de pagar um suborno para tudo...

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  2. Grifo,

    A tal corrupção de classe baixa não deixa sem dúvida de ser um entrave ao desenvolvimento mas acho que só faz sentido investir recursos no combate a esse tipo de corrupção depois de darmos às pessoas a possibilidade de terem condições dignas de vida de uma forma honesta. Temos que lhes dar salários que lhes permitam comprar alimentos por exemplo. Porque essa corrupção das classes baixas muitas vezes é a diferença entre passar fome ou não. Deve-se combater essa corrupção quando sabemos que é possível viver condignamente de uma forma honesta.

    Em relação ao teu primeiro parágrafo só tenho a dizer que na minha opinião isso não são simples teorias mas no general a verdadeira realidade. Daí eu ter referido no post que os países desenvolvidos "fecham" os olhos em relação a esta realidade que se vive no continente africano. E se o fazem é porque têm interesses em tal situação.

    Abraço,
    Daniel

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  3. O teu último parágrafo do comentário acima vai ao encontro do que penso... há interesses nos países ricos para que essa corrupção de regime se mantenha.
    Mas não precisamos de ir a áfrica, embora com um aspecto diferente, a quantidade de dinheiro colocado em Portugal pela UE e a manutenção do nosso baixo desenvolvimento económico-social tem também a ver com opções oolíticas onde interesses de grupos ou de pessoas se sobreposeram ao bem nacional e ninguém é castigado por isso.

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  4. geocrusoe,

    Infelizmente por todo o lado vemos de diferentes maneiras e perspectivas que o interesse comum é deixado de parte em benefício do interesse de alguns. É claro que isto também acontece em Portugal apesar de ter moldes bem diferentes da realidade africana. Até nas Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais temos exemplos deste género, depois é só avançarmos na escala.

    Abraço,
    Daniel

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  5. Caro Rebelo, eu sou um iniciado nos estudos de materias relacionadas com relações internacionais. E nesta vertente, tem-me chamado atenção a forte presença chinesa nos países chamados do 3ºmundo ou do sul, estou a falar de paíse de África, Asia e America do sul, cuja a presença económica chinesa é muito forte em alguns casos superando as potências do G-7.
    o Crescimento das vendas chinesas superou no mês passado o maior exportador -Alemanha.

    Agora surge a questão; do ponto de vista da analise realista das Relações internacionais, baseando-se no princípio segundo o qual as relações entre os Estados giram em volta do poder, qual é a sua visão quanto as objectivos geoestartegicos que motivam a força e a velocidade com que a china tende a espalhar a sua influência pelo mundo a fora, incluindo nos próprios EUA?

    Obrigado:
    Pedro Magalhaês e sou angolano; um abraço
    ordepalex@hotmail.com

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  6. roanjos,

    Antes de mais um obrigado pelo interesse e pela participação. e um pedido de desculpas pela resposta tardia.

    Na minha opinião estes países ditos de 3º mundo são extremamente atractivos por vários motivos e isso nota-se pela forma como vários estados tem tentando disseminar o seu poder e a sua influência nestas regiões.

    Os EUA são (ou eram) o maior doador de ajuda humanitária aos países africanos e alguns asiáticos e são "parceiros" na luta contra a droga no México, entre outros exemplos. Portugal e outros países da UE estão a investir maciçamente nas antigas colónias e a multiplicar os acordos bilaterais, protocolos, etc.

    Se o fazem é porque esperam algo em troca e a verdade é que os países desenvolvidos precisam muito dos países de 3º mundo. Muitos deles tem vastos e variados recursos naturais (pedras preciosas,petróleo, madeira, áreas de cultura, etc.) que serão cada vez mais cobiçados à medida que a oferta for diminuíndo. Este será sem dúvida um dos factores que motiva a China (ou qualquer potência) a investir e "controlar" de certa forma estes países subdesenvolvidos.

    Outra vantagem de uma influência global vasta e dominante é por exemplo em cimeiras internacionais. Se um país depender fortemente do investimento chinês para o desenvolvimento da sua economia e o seu tecido empresarial for dominado por empresários e multinacionais chinesas então dificilmente esse país se irá opor às propostas chinesas ou votar a favor de qualquer uma que ponha em causa os interesses da China.

    Outro factor será por exemplo o de expandir os mercados para onde a China pode exportar em grandes quantidades.

    Aquilo que a China está a fazer traz-lhe benefícios económicos e políticos e percebe-se o porquê de não limitar os seus "planos" aos países vizinhos na Ásia. Ao espalhar a sua influência por todos os continentes está a fortalecer a sua posição global e a garantir que nada ocorre sem a sua "autorização". Investir nos países em desenvolvimento é investir no futuro já que se espera que as suas economias cresçam a um ritmo mais acelerado que as dos países desenvolvidos e que o seu peso no PIB mundial aumente e investir em potências "rivais" é garantir que temos alguém nas trincheiras inimigas o que irá facilitar a nossa missão de conquistar a hegemonia.

    Isto comprova-se pela actual situação de dependência dos EUA em relação à China (sendo que é a China que compra e que detem uma fatia gigante da dívida americana) que obrigam a administração Obama a fortalecer as relações sino-americanas e a "fechar os olhos" a situações como o desrespeito pelos direitos humanos, etc.

    Abraço,
    Daniel

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