sexta-feira, 3 de julho de 2009

Green High Tech

Cada vez mais o "verde" é sinónimo de uma multiplicidade maior de coisas. No início "green" era algo que se destacava pelo seu desempenho ambiental (melhor que os produtos concorrentes), pela sua neutralidade carbónica (através da compensação de emissões) ou por ser um produto que nos auxiliava a proteger o ambiente e a natureza (poupança de energia, poupança de água, redução do volume de lixo, etc.). Verde é a cor da Natureza e o "green" lutava pela sua protecção.

Com uma maior sensibilização e mediatização dos problemas associados às alterações climáticas, "green" passou a significar também um estilo de vida. Uma moda. Ser verde é uma opção, a opção "correcta" e "fixe". Simboliza a preocupação com um problema global e a vontade em deixar de ser parte do problema para ser parte da solução. "Green" é um modo de vida associado ao desenvolvimento sustentável e à paz, não só entre os povos, mas entre o ser humano e o planeta. É o modo de vida do futuro.

A procura incessante por produtos amigos da Natureza, verdes, carbono zero, biológicos, ou qualquer outra designação que esteja associada à salvação da Terra levou a que "green" adquirisse um terceiro significado. O do dinheiro. Cada vez mais é importante para uma marca estar associada ao movimento verde para vender e publicitar os seus produtos. A procura por produtos "green" leva as empresas a adaptarem-se a esta nova realidade e a publicidade e marketing levada a cabo pelos grandes grupos leva-nos a querer ainda mais os produtos verdes. "Green" é uma estratégia empresarial com uma componente cada vez mais essencial para alcançar o sucesso.

Se aliarmos estes três diferentes significados para "green" verificamos que existe um elevado leque de pessoas interessadas nesta área. Qualquer que seja o motivo, é difícil encontrar quem não tenha interesse pelo verde. Este interesse leva-nos a querer um verde cada vez maior e melhor. É por isso que cada vez mais marcas/produtos/empresas estão associadas a este mundo (até as petrolíferas). É preciso inovar, criar, inventar, experimentar, estudar, etc. Tudo para completar cada vez mais o "green" e aperfeiçoá-lo. Surge assim o quarto significado. "Green" é sinónimo de inovação tecnológica. Aliada à engenharia/tecnologia ambiental estão invenções de ponta numa indústria virada para o futuro. É o "Green" High Tech e representa a tecnologia que vai moldar o nosso mundo e a nossa sociedade.

Seguem-se dois exemplos da aposta em Green High Tech:

1) As potências asiáticas unem-se em torno da tecnologia verde para desafiar a supremacia americana. Em Agosto os líderes da China, Japão e Coreia estarão presentes numa cimeira cujo objectivo é unir os recursos e competências destes três países para alcançarem uma cooperação na área ambiental que seja capaz de liderar a nível mundial este tipo de tecnologia. O Japão é o líder em automóveis híbridos e eléctricos, a China tem bastante dinheiro para investir e a Coreia é bastante conhecida pela sua robótica de ponta. Se juntarmos estes ingredientes veremos que é expectável a saída de novas e inovadoras tecnologias capazes de revolucionar a área ambiental. Esta invulgar cooperação destina-se principalmente a proteger o sector industrial asiático bem como retirar dividendos económicos e não proteger o planeta em si. Esta cimeira representa a importância que o sector ambiental tem vindo a ganhar. Ao apostar nele, é possível retirar benefícios de diversas frentes. As potências asiáticas querem estar preparadas para o futuro e sabem que o futuro reside no "green".

2) O suíço Bertrand Picard apresentou ao mundo o seu avião solar. O "Solar Impulse" é um avião que funciona a 100% com a energia solar e é capaz de voar durante a noite (visto que acumula energia durante o dia nas suas baterias), atingindo uma velocidade de 70 km/hora. O objectivo é realizar em 2012 uma volta ao mundo naquele avião para demonstrar que existem soluções ambientalmente responsáveis para o sector da aviação. Pessoalmente fiquei bastante agradado com esta notícia. Quando falei sobre o futuro dos transportes, mostrei-me bastante preocupado com o sector da aviação, visto ser bastante difícil conseguir colocar aviões comerciais a voar com energia 100% renovável. Este planador de Picard apesar de ser somente um pequeno avião, demonstra que com esforço, investigação, vontade e investimento é possível ultrapassar os obstáculos e escrever um novo capítulo na história da aviação.

PS: Estive ausente durante uma semana. Quero que todos saibam que escrevo por prazer e só o estive por motivos profissionais e de saúde. Peço desculpa a todos aqueles que gostam de ler/comentar neste espaço. Espero agora voltar ao ritmo normal.

2 comentários:

  1. Focastes um tema que me é caro, mas que me preocupa, o interesse económico no "green". Quando se usa o green como marketing, sem se acreditar no conceito original de green, arriscamo-nos a enganar o comprador, a comercializar produtos que até nem deveriamos sentir a sua falta. Lembras-te do que Lovelock referiu ao encontrar um modelo gaia que nada de ambiental tinha? É que espertezas deste tipo também mancham a credibilidade do green.

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  2. geocrusoe,

    O problema de que falas é vulgarmente conhecido como "greenwash". De uma forma implícita, alertei para esse problema quando mencionei que até as petrolíferas aparecem associadas à defesa do planeta. É extremamente injusto para empresas/marcas que efectivamente comercializam produtos que auxiliam o planeta terem de se "defender" da má imagem causada por quem se aproveita do marketing à volta do green. É preciso sabermos distinguir e avaliar os produtos para além da etiqueta inicial e para quem quer defender o green de forma honesta é essencial apresentar a honestidade no próprio produto. Por exemplo, eu dizer que as meias que eu produzo são menos agressivas para o meio ambiente que aquelas que tu produzes. E não tentar convencer as pessoas de que ao comprarem as minhas meias estão a salvar o planeta, quando na verdade estão apenas a estragá-lo menos.

    O problema que levantaste é capaz de dar um bom post num futuro :)

    Abraço,
    Daniel.

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