terça-feira, 7 de julho de 2009

Educação - Ensino Público

Neste primeiro tópico sobre Educação vou abordar o ensino público e a sua importância. Em primeiro lugar devo referir que a Educação é um dos sectores que considero mais importantes para o desenvolvimento do país e onde para mim, é extremamente compensatório realizar investimentos avultados. Uma das razões apontadas para o nosso "atraso" em relação à Europa é a falta de formação académica e profissional da maioria da população activa do nosso país, consequência ainda do regime do Estado Novo.

Na minha opinião, um país sem formação e educação é um país enfraquecido. Uma aposta forte, correcta e contínua neste sector traz benefícios sociais e económicos. A quantidade de jovens portugueses que se destacam um pouco por todo o mundo, em todas as áreas, são excelentes exemplos daquilo que é possível "colher" num bom sistema de educação.

A educação é um direito e como tal compete ao Estado garantir esse direito. Surge assim o ensino público. Considero que uma formação de qualidade deve estar acessível a todos, independentemente dos recursos financeiros disponíveis. Ingressar no ensino privado deve ser uma opção e não uma "obrigação" para se conseguir uma formação com qualidade. É imperativo manter o sistema educacional saudável. Sou um defensor do ensino público, e a explicação para tal pode concentrar-se numa palavra: lucro. Para mim, quando uma escola é gerida de forma empresarial o objectivo primário é conseguir lucro e na Educação o objectivo primário deve ser sempre garantir uma formação de qualidade aos estudantes. Eu estudei num colégio privado durante 10 anos e não tenho razão de queixa da formação administrada, antes pelo contrário. Não digo que os estabelecimentos de ensino privado não sejam capazes de garantir uma boa Educação. A razão pela qual defendo o ensino público é por assim dizer, por uma questão de princípios. Por considerar que de uma forma ou de outra, a necessidade de obter lucro pode interferir na qualidade da formação, já que não é dada a devida primazia à qualidade do ensino e ao consequente aproveitamento e bem-estar dos estudantes visados.

Na Educação não interessa o dinheiro. Obviamente que deve existir uma gestão correcta e sou totalmente contra desperdícios mas quando se pensa em Educação aquilo que nos lembramos primeiro não pode ser dos cifrões. Imagine-se que o sistema de ensino público regista um prejuízo de 100 milhões de euros por ano. Não existem desperdícios? Não. A qualidade de ensino está assegurada? Sim. Então esses 100 milhões "negativos" valem a pena. É preciso gastar mais 50 milhões anuais para assegurar um sistema saudável? Se efectivamente esses 50 milhões a mais proporcionarem melhorias que o sistema necessita então devemos gastá-los. Pagamos impostos e gastar dinheiro no sector da Educação é das melhores formas que encontro para fazer com que os impostos pagos sirvam a população que os pagou.

Em suma defendo um sistema de ensino público forte, gratuito, inovador, com melhorias ano após ano, acessível para todos e cujas únicas preocupações sejam a qualidade da formação administrada e o bem-estar dos estudantes. O Estado não deve filtrar nem instrumentalizar os conteúdos programáticos. Deve antes incentivar o pensamento, a reflexão, a análise, o debate, etc. O Estado não deve "manipular" o sistema mas deve controlá-lo na medida em que é algo demasiado importante. É um pilar essencial ao funcionamento e desenvolvimento do país e como tal não deve estar monopolizado por interesses cujo objectivo se desvie daquele enunciado, o da qualidade do ensino. Os investimentos na Educação serão provavelmente dos mais lucrativos se ponderarmos todos os factores, mas os ganhos desse investimento não são visíveis no curto prazo nem nas contas do sistema de ensino.

Adenda: Foi-me pedido para realizar uma breve análise sobre o nível de exigência do ensino e dos exames nacionais. É com muito prazer que aceito a sugestão. Conclui este ano o ensino secundário e nesta "aventura" de 3 anos realizei os 4 exames nacionais obrigatórios da minha área (MACS, Geografia, História e Português). Pessoalmente não achei difícil o ensino secundário. Para quem se interessa pelas disciplinas e está disposto a estudar consoante as suas dificuldades, provavelmente não irá reprovar. Todos nós temos disciplinas preferidas e professores preferidos. Juntando esses factores a outros como a nossa turma (e a relação com os colegas), a nossa escola em si, o apoio prestado por familiares e amigos, etc. vão influenciar seguramente os nossos resultados. No geral, considero o nível de exigência do ensino secundário adequado à faixa etária a que se destina. A carga horária parece-me adequada (talvez um pouco extensa no 10º ano mas é algo compensado com a forte diminuição no 12º) e alegra-me ver que existe uma preocupação em garantir disciplinas que fomentem diversos tipos de aprendizagem. A oferta de disciplinas existentes é também positiva já que temos um leque alargado de escolhas que podemos fazer consoante os nossos gostos e aptidões. Em relação aos exames nacionais, a minha opinião muda bastante. Dos 4 exames que fiz senti que praticamente todos os minutos de estudo (sejam eles poucos ou muitos) foram um desperdício. Não sou contra a realização de exames nacionais, antes pelo contrário. Sou a favor de exames no final do secundário ou de exames para acesso ao ensino superior realizados na própria faculdade a que nos candidatamos. Simplesmente discordo deste género de exames porque não creio que avaliem verdadeiramente os conhecimentos dos alunos. Não é uma questão de serem fáceis ou difíceis. É fácil conseguir uma positiva porque os exames não testam verdadeiramente os conhecimentos mas é algo difícil atingir uma nota elevada (+17) devido aos rigorosos critérios de avaliação. Se pudesse alterar os exames, mais do que alterar o seu grau de dificuldade, alterava a sua estrutura. Exames que exigissem conhecimentos da disciplina, fossem eles decorados ou percebidos. Exames que exigissem análises e reflexões recorrendo à matéria leccionada. Exames que exigissem pensar.

10 comentários:

  1. Concordo com o ensino publico não só pela maior preocupação com qualidade em detrimento do lucro, mas também por questões sociais de acesso á educação...

    Grifo

    (grifonia.blogspot.com)

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  2. Grifo,

    Eu concordo plenamente com a tua afirmação. Só não dei especial realce à questão do acesso à educação porque isso poderia ser "contornado" por exemplo através de subsídios estatais. Ou seja, privatizar-se o sector da educação mas o Estado financiar os estudos de classes cujos rendimentos não permitissem esse acesso. Ainda assim, discordaria de tal medida voltando ao argumento do lucro, já que via pagamento directo por parte do estudante ou via subsídio estatal, aquilo que interessaria ao estabelecimento de ensino seria o lucro e não a qualidade da formação.

    Muito obrigado por comentar!

    Cumprimentos,
    Daniel.

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  3. Nem só isso... o facto da educação ser privadas diminuiria a qualidade de vida das pessoas, visto que teriam de pagar muito pela educação dos seus filhos, mesmo sendo considerados cidadãos de classe media baixa...

    Acontece muitas vezes em estabelecimentos privados passarem alunos mesmo não merecendo, com receio de perderem clientes... isto em alguns casos...

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  4. Grifo,

    O facto do objectivo primário ficar "deturpado" iria arrastar consigo várias consequências nefastas como aquelas que enunciaste acima. São tudo consequências que se interligam quando não é dada primazia ao sector que se deveria dar. Para mim ensino público com qualidade é a solução.

    Cumprimentos,
    Daniel.

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  5. E o mesmo se passa com muitos outros serviços públicos, saúde e etc... além de uma maior preocupação com a qualidade são mais acessíveis á população... o que permite um crescimento da classe media... agora quando todos esses sistemas são deturpados ou mal geridos a situação invertesse... como acontece actualmente em Portugal... Médicos que enchem os seus pacientes de medicamentos para ganhar mais algum... o ensino está um caos... sendo o principal objectivo das melhorias não o enriquecimento do aluno, mas sim estatísticas, independentemente das consequências para o futuro profissional do aluno...

    Grifo

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  6. Grifo,

    A seguir à educação vou abordar a saúde, também dividindo o sector em subtemas. Ao analisares a minha perspectiva sobre a educação pública, poderás concluir que defendo a mesma "tese" para a saúde pública, bem como todos os sectores onde aquilo que considero mais relevante não seja o dinheiro (outro exemplo é a segurança). Mesmo que existam políticas governamentais na direcção certa depende muito das pessoas afectadas por essas reformas o seu sucesso ou não. Exemplos como aquele que enuncias são a prova de que é necessária vontade política para realizar projectos mas o sucesso dos mesmos depende de nós todos.

    Cumprimentos,
    Daniel.

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  7. Daniel, a chave do sucesso - provavelmente - está aqui nesta tua ideia: "Para quem se interessa pelas disciplinas e está disposto a estudar consoante as suas dificuldades, provavelmente não irá reprovar".
    O esforço, no que quer que seja, tem que ser compensador. Um sistema "facilitador" vai no sentido contrário.

    um abraço

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  8. Paulo,

    Concordo plenamente. O ensino na sua globalidade tem de ser exigente. Existem notas de 0 a 20. Obviamente que existem alunos com maiores capacidades e outros com menores mas todos sem excepção têm de conseguir no mínimo o nível 10. Um sistema em que não existe a possibilidade de reprovar não vai apelar ao esforço e empenho necessário para podermos evoluir e aumentar os nossos conhecimentos. As escolas públicas têm que oferecer as melhores condições aos alunos e tentar estimular a sua aprendizagem da melhor maneira possível. Em contrapartida os alunos têm de compreender a necessidade de terem uma boa formação e esforçarem-se para obter boas notas. A exigência é a "moeda de troca" pela facilidade de acesso e pelas boas condições materiais e humanas.

    Um abraço e aguardo por mais desafios :)

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  9. Concerteza, eu concordo com você, a educação pública é sim muito importante e que precisa ser mais valorizada e mais avançada, pois ainda estudo em colégio publico e com o vestibular chegando, com as modificações na prova do ENEM acho que vai ser dificil passar, por enquanto vou fazendo de tudo pra aprender o necessário pra conseguir ir pra uma faculdade e cobro das professoras que não podem fazer muito, pois o governo que deveria estar dando ensino de qualidade pra nós.

    Mas tudo isso postado aí em cima, concerteza muita gente concorda e está certo, eu tambem sempre achei que a educação tinha que ser o problema mais trabalhado aqui no Brasil.


    Agradeço pela postagem que ficou muito boa!!!

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  10. Amanda,

    A educação é um direito global. Seja em Portugal, no Brasil ou em qualquer outro país todos nós deveríamos ter acesso a uma educação de qualidade e no meu entender, proporcionada pelo estado. Infelizmente existem problemas em muitos países relacionados com a Educação, sendo que muitos governos não dão a devida importância a este sector. A educação é essencial para que tudo o resto na sociedade funcione e se desenvolva. Muitas vezes esquecemo-nos que o sucesso económico ou o bem-estar social está profundamente relacionado e dependente do sucesso educativo.

    Eu é que agradeço o comentário! Sem o contributo de todos, este blogue não faz sentido.

    Cumprimentos,
    Daniel.

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