quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Defesa e Segurança - PSP/GNR

As forças policiais tem um âmbito alargado de missões e competências e o seu papel na sociedade é fundamental. Funcionam como reguladores das regras que nos são impostas para conseguirmos viver em harmonia com a sociedade actual. Tentam de certa forma, controlar esta "selva" em que vivemos. Escolhi abordar a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana por conhecer melhor a sua realidade e por serem aquelas que têm um contacto mais directo com a grande maioria de nós bem como a semelhança de competências entre estas duas forças, variando o seu raio de acção com situação geográfica. Não abordar forças como a PJ ou o SEF é apenas por achar que não se enquadram naquilo que quero falar e não por discriminação. Todas elas têm o seu papel e na minha opinião todas elas são úteis servindo um grande objectivo comum. O de proteger os outros.

Com o aumento das dificuldades sociais é "normal" aumentar a instabilidade e a criminalidade associada. Crescem movimentos extremistas, aumenta a discriminação e a intolerância. Com o surgimento de um crescimento económico é normal que a situação melhore na globalidade bem como programas de integração social que têm um importante papel na prevenção da criminalidade e que devem ser valorizados.

Contudo existe e existirá sempre uma fatia da criminalidade que não pode ser prevenida nem através do bem-estar económico nem através de programas que auxiliem a sua integração social. Pessoas que cometem crimes por prazer ou por quererem ganhar dinheiro de uma maneira mais fácil do que trabalhando, entre outras razões. É preciso puni-las e assegurar que os nossos direitos são respeitados. E é aí que entram estas duas forças policiais que actuam como o "primeiro elo" da justiça. Todos nós temos de ver os nossos direitos respeitados e levar uma vida sem medo de sair à rua. É essa a função principal da PSP e da GNR. Proteger os outros. Assegurar que estão seguros. Garantir que ninguém nos vai violar nenhum direito e que se o fizer será apanhado e punido.

Actualmente, por um variado conjunto de razões, não creio que as pessoas não tenham medo de sair à rua na sua maioria e a criminalidade atinge níveis preocupantes. Além daquela criminalidade cujo combate se faz através de integração social existem na minha opinião outras razões que levam a este contínuo aumento tanto dos crimes ligeiros como dos crimes graves.

A sensação de impunidade por parte dos criminosos, a falta de meios humanos e materiais das forças policiais e o crescente descontentamento dos membros destas forças são algumas delas. A falta de celeridade na nossa justiça é conhecida e é frequente vermos pessoas que são detidas por crimes bastante graves a serem libertadas no dia seguinte. Algumas são detidas vezes e vezes sem conta (às vezes mais que uma vez no mesmo dia) mas nunca ficando em prisão preventiva enquanto aguardam julgamento. Pessoas que são apanhadas em flagrante e que depois são condenadas a pena suspensa, pagamento de multas, etc. Outras ainda que nem condenadas são ou que estão a aguardar julgamento à largos anos. Se um criminoso sabe que não vai ser punido pelo seu crime então não tem nada a perder e esta tipo de situações e sentimentos apenas vai contribuir para que além de aumentar a criminalidade, o grau de violência da mesma se torne maior. É impossível combater o crime de forma eficaz se os criminosos dispuserem de equipamentos melhores que as forças policiais. Estão em desvantagem desde o primeiro momento se assim for seja em armamento, viaturas ou até mesmo formação. É preciso dotar as forças policiais dos equipamentos necessários para realizarem as suas tarefas com sucesso bem como assegurar que existe um número adequado de polícias, algo que creio não existir. Em número total os polícias podem não ser assim tão poucos mas se verificarmos quantos estão na rua para proteger as populações o seu número é bastante reduzido. Muitos estão em serviços de cafetaria e bar, oficinas, secretarias, motoristas, etc. Não que seja empregos degradantes ou de segunda categoria, antes pelo contrário. Simplesmente não é necessária a formação policial para desempenhar essas funções. Funções essas que seriam melhor desempenhadas por civis com formação específica. É preciso ter polícias em quantidade mas é mais importante ainda a qualidade. Para combater a criminalidade é necessário assegurar que os polícias estão preparados mentalmente e fisicamente (incluindo os equipamentos) para desempenhar as suas funções. E essa qualidade nunca poderá ser assegurada se o "grosso" da PSP e GNR estiver descontente. A sensação de impotência (veja-se os exemplos acima) por parte destas duas forças não abona nada em favor da segurança dos cidadãos. Se um polícia ganha um ordenado que não lhe permite viver condignamente, se tem condições de trabalho miseráveis (basta entra numa esquadra da PSP ou posto da GNR) e se sente que não consegue cumprir a sua missão então nunca será possível que esse polícia esteja 100% preocupado com aquilo que deveria estar. A segurança dos outros. No meu entender só melhorando os 3 itens do início deste parágrafo é que iremos conseguir combater verdadeiramente aquela criminalidade que não pode ser prevenida/combatida com medidas sociais. Só assim iremos conseguir punir os criminosos que o são por opção e que entendem perfeitamente as consequências dos seus actos.

Para melhorar a segurança dos cidadãos combatendo a sensação de impunidade, reforçando os recursos humanos e materiais das forças policiais bem como as suas condições de trabalho e de vida é necessário primeiro que tudo alterar a dinâmica que está patente na polícia. A PSP e a GNR não podem ser um instrumento político nem uma fonte de receita para o Estado. As forças policiais devem servir para impedir crimes ou deter os seus autores, não para reprimir a população. As multas não devem ser uma prioridade para as polícias.

Alterar esta dinâmica e garantir que a defesa das populações é o verdadeiro objectivo principal e a razão de ser das forças policiais é um ponto de partida obrigatório para melhorarmos o combate à criminalidade e garantir a segurança de todos nós.

4 comentários:

  1. Daniel,
    Toda esta tua resenha, feita por ti está fantástica!
    Mas nós, só nos sentiremos seguros quando soubermos que as nossas polícias tem os meios capazes de fazer frente aos criminosos que dispõem de capacidades de ataque como se de um isqueiro para acender um cigarro se tratasse (utilizo esta expressão, porventura um pouco exagerada, mas é a realidade dos nossos dias).
    Todos sabemos da penúria com que as nossas polícias se debatem com falta de meios!
    A segurança das populações é uma obrigação do Estado e quem assume a governação de um País, tem que levar isso em linha de conta sob pena de se tornar responsável, pela criminalidade que não olha a meios para conquistar fins.

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  2. Nuno Pereira,

    Infelizmente é uma realidade com a qual contactamos diariamente e que tem sido negligenciada ao longo dos anos. As nossas forças de segurança praticamente pararam no tempo e foram-se degradando ano após ano. Na minha opinião a situação é já insustentável e tenderá a piorar se nada for feito. Pela polícia e acima de tudo por todos nós esta realidade tem de ser alterada.

    Abraço,
    Daniel.

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  3. O Daniel tem razão em quase tudo o que diz neste seu artigo, e digo isto de forma consciente porque tenho um irmão que é militar da GNR (ex-GF) há mais de 20 anos e sei bem que as condições em que exercem o seu trabalho está longe de ser a melhor.
    Mas Daniel, há anos que oiço estas queixas e as mesmas têm servido para, muitas vezes, alguns (e não todos) os elementos dessas forças se desculparem com faltas de profissionalismo imperdoáveis.
    O Daniel conhece alguma outra profissão onde os empregados tenham nas suas instalações bares, onde são vendidas bebidas alcoólicas a preços baixos e onde os empregados bebem quantidades, vamos dizer consideráveis, de alcoól em pleno serviço ?
    Como deve saber, não há praticamente quartel da GNR e da PSP onde isto não aconteça.
    Estarão esses agentes e guardas em condições de exercerem correctamente as suas funções depois de meia-duzia de "minis" ?
    As critícas são válidas, mas no caso concreto das forças de segurança em Portugal, aplica-se a velha máxima :

    - À mulher de César não lhe basta ser séria, há que parecê-lo !

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  4. Eduardo Miguel Pereira,

    Trate-me por tu :) A minha "filosofia" em relação às forças de segurança é proporcionar-lhes condições. Salários, equipamentos, infra-estruturas, etc. E após proporcionar-lhes essas condições de trabalho e de vida exigir o máximo deles, exigir aquilo a que temos direito, todos nós. Isso engloba o seu exemplo com o qual concordo (os agentes e militares não poderiam beber em serviço), deveriam ter avaliações físicas regulares, entre outras situações como por exemplo reforçar o combate à corrupção e abuso de poder.

    Existem inúmeros defeitos na forma como as polícias operam e como os nossos polícias trabalham. Eu defendo que se deve dar condições dignas de trabalho e de vida a esses profissionais. Mas a contrapartida é exigir um serviço e uma competência exemplares. Porque essa competência é a "justificação" para o investimento realizado e esse mesmo investimento é aquilo que vem terminar com as "desculpas" dos profissionais das forças de segurança para não cumprirem a 100% os seus deveres e obrigações.

    Comente sempre!

    Abraço,
    Daniel.

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