domingo, 16 de agosto de 2009

Cuidados Continuados e Paliativos

O Paulo Lobato desafiou-me a realizar um post acerca dos cuidados continuados e paliativos. Estou aqui para cumprir com o prometido. Em primeiro lugar, um país que se considere justo do ponto de vista social e que englobe os cuidados de saúde com uma visão ampla tem que considerar a totalidade dos seus cidadãos. Incluindo os doentes crónicos e terminais.

Agrada-me verificar que têm existido progressos neste domínio já que é uma área muitas vezes esquecida. Todas as pessoas merecem uma vida digna que respeite os seus direitos fundamentais e considero ser um dever do estado zelar por esses direitos. Os cuidados continuados têm um papel extremamente importante na coesão da sociedade e no respeito pelo indivíduo. Devemos procurar alargar a Rede Nacional de Cuidados Continuados e melhorar a mesma para que todos possam ter um acesso cada vez mais prático e com uma qualidade cada vez mais elevada.

Estes cuidados continuados devem compreender a totalidade das necessidades proporcionando uma assistência que vise a recuperação física e psicológica dos doentes e também das famílias. É preciso apostar na assistência doméstica sempre que possível para proporcionar um melhor conforto ao doente e à sua família bem como apostar no acompanhamento psicológico. Estes cuidados devem também ter em atenção as mudanças sociais que decorrem de uma situação destas e apoiar a resolução das mesmas (por exemplo algum familiar ter que se despedir para tratar do doente). O apoio durante os tratamentos é bastante importante mas o auxilio na integração social após os mesmos contem uma importância igual ou talvez ainda maior.

O mesmo deverá acontecer nos cuidados paliativos. Os doentes crónicos ou terminais não devem ser abandonados e, na minha opinião, temos o dever de lhes proporcionar a melhor qualidade de vida possível. Todos nós temos um papel a desempenhar na sociedade e uma pessoa por ter uma doença em fase terminal não significa que o seu papel se tenha extinguido automaticamente. Tal como nos cuidados continuados penso que a aposta em cuidados domiciliários e em apoios psicológicos tanto ao doente como à sua família é algo de extrema importância.

Estas pessoas tem sonhos, ambições e objectivos. Terão maiores dificuldades em concretizá-los dai necessitarem e merecerem o nosso apoio mas isso não significa que não possam contribuir para um país e um mundo melhor. Pelo potencial que essas pessoas encerram, pela construção de uma sociedade mais justa, por uma melhor compreensão da palavra saúde não devemos deixar de lutar pelos direitos de quem mais precisa. Todos nós sem excepção merecemos uma vida digna e com qualidade.

Apesar da recente evolução é preciso continuar este trabalho e esta missão na luta por um país melhor. É preciso apoiar a totalidade dos doentes, a totalidade das famílias e compreender as suas reais necessidades. O apoio na tratamento da doença ou na minimização dos seus impactos é essencial mas a integração social será talvez das melhores ajudas que podemos prestar. O apoio físico é essencial mas a mente comanda o corpo e o apoio psicológico pode ter uma influência enorme. O investimento nestas pessoas é essencial e a construção de uma sociedade mais justa é para mim um "lucro" suficiente para justificar esse mesmo investimento.

9 comentários:

  1. Toda a pessoa é digna desde o seu início até ao final da vida. Lutar para que essa dignidade exista até ao fim é um dever de qualquer cidadão. Embora por vezes seja um campo onde existem fronteiras cujos limites não são iguais segundo cada indivíduo e por isso surgem confrontos de ideias, mas o importante é conseguir que cada um receba o apoio na medida que considere adequado à sua condição para prolongar a sua qualidade de vida o máximo possível segundo a sua própria perspectiva de vida.

    ResponderEliminar
  2. geocrusoe,

    Eu acho que é este tipo de pensamentos que nos fazem considerar sermos racionais. Aquilo que dizes, penso eu, deveria ser algo comum a todos nós. A preocupação com os outros, o auxílio a quem necessita. Existem várias formas de o fazer e podemos discordar de como essa ajuda deve ser administrada e em que moldes. Mas o facto de termos que ajudar a melhorar a qualidade de vida destas pessoas é uma linha que eu gostaria que todos nós seguíssemos.

    Abraço,
    Daniel.

    ResponderEliminar
  3. Boa reflexão sobre o tema. É uma frase batida, mas a evolução humana de uma sociedade mede-se pela forma como trata as suas crianças e, sobretudo, os seus idosos.
    Com o aumento da esperança de vida haverá que ter uma atenção especial aos cuidados paliativos. E a eutanásia terá que ser debatida, mais dia menos dia.

    ResponderEliminar
  4. Rui Herbon,

    O aborto já foi debatido, o casamento entre homossexuais está a ser cada vez mais falado e com certeza a eutanásia terá o seu debate no futuro. Era um tema que também dava um belo post, apesar da controvérsia.

    Abraço,
    Daniel.

    ResponderEliminar
  5. Daniel, é relevante que tenhas também mencionado o apoio às famílias, pois o sofrimento/desgaste a que estão sujeitos é muito elevado, e - para quem está na linha da frente - é importante que se sinta apoiado.

    um abraço,
    Paulo

    ResponderEliminar
  6. Paulo,

    A vertente das famílias e a vertente psicológica das pessoas em si são as duas áreas que me parecem mais "esquecidas" e nas quais existe mais falta de apoio. Fico à espera de novos desafios :)

    Abraço,
    Daniel.

    ResponderEliminar
  7. Concordo plenamente com o que foi escrito neste artigo.

    Infelizmente, falo de experiencia propria, (por ter auxiliado a minha irma durante uma doenca grave, fora de Portugal) onde ainda tinhamos como barreira, a lingua.

    Considero que a sociedade em geral teria de estar melhor preparada para aceitar e entender pacientes com doencas graves e terminais.

    Quando se fala em chavoes, como por exemplo, a leucemia, senti que as pessoas tem muita falta de nocao do verdadeiro significado da doenca - falta de informacao e uma constante!

    Mas, devo admitir que onde estavamos, o apoio familiar foi impressionante, o aconselhamento e util para sabermos como ajudar e tornar a vida mais facil a um familiar nosso que esteja a viver tal situacao.

    Em Portugal, acho que seria importante definir mecanismos de apoio a familiares que depois da perda de alguem tao proximo, tem de se confrontar com a dura realidade, sem saberem o que fazer.

    My 2 cents,

    Rute

    ResponderEliminar
  8. Concordo plenamente com o que foi escrito neste artigo.

    Infelizmente, falo de experiencia propria, (por ter auxiliado a minha irma durante uma doenca grave, fora de Portugal) onde ainda tinhamos como barreira, a lingua.

    Considero que a sociedade em geral teria de estar melhor preparada para aceitar e entender pacientes com doencas graves e terminais.

    Quando se fala em chavoes, como por exemplo, a leucemia, senti que as pessoas tem muita falta de nocao do verdadeiro significado da doenca - falta de informacao e uma constante!

    Mas, devo admitir que onde estavamos, o apoio familiar foi impressionante, o aconselhamento e util para sabermos como ajudar e tornar a vida mais facil a um familiar nosso que esteja a viver tal situacao.

    Em Portugal, acho que seria importante definir mecanismos de apoio a familiares que depois da perda de alguem tao proximo, tem de se confrontar com a dura realidade, sem saberem o que fazer.

    My 2 cents,

    ResponderEliminar
  9. Rute,

    É exactamente nessa tecla que quero bater. Quando falamos numa melhoria do sistema de saúde não podemos pensar apenas na cura da doença em si e apenas no doente. É certo que temos deficiências a esse nível e esta área é a base por assim dizer da palavra saúde mas existem outros campos onde deveriam existir grandes mudanças.

    A componente psicológica (tanto do doente como da sua família/amigos), o apoio aos familiares (leia-se as situações em que por exemplo um familiar tem de se despedir do emprego para ficar com o doente) e a qualidade de vida daqueles que não terão cura (pelo menos na medicina do presente) são 3 pontos fundamentais que na minha opinião ainda não lhes é reconhecida a devida importância.

    São pontos essenciais para obtermos uma sistema de saúde exemplar e que se orgulhe de compreender Saúde como um todo e não apenas numa visão clássica.

    Obrigado pelo comentário!

    Cumprimentos,
    Daniel.

    ResponderEliminar