Este artigo do Público dá conta da mais recente "vitória" de Obama.
A sua legislação de combate às alterações climáticas foi aprovada na Comissão de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes, com 33 votos (democratas) a favor e 25 (republicanos) contra. Este é apenas o primeiro passo da peça legislativa já que terá de ser votada na Câmara dos Representantes e no Senado. Prevê-se que ainda este Verão esta questão fica resolvida.
As metas fixadas são reduzir em 17% as emissões até 2020 (face a 2005) e em 83% até 2050. Para as cumprir o objectivo é em 2020 15% da energia produzida provir de fontes renováveis e a criação de um mercado de licenças de emissão de dióxido de carbono.
Na minha opinião todo este processo realizado até agora trouxe alguns aspectos positivos e negativos.
Do ponto de vista dos aspectos positivos há que salientar primeiro que tudo o sinal enviado pelos EUA à comunidade internacional. Obama prometeu uma viragem neste sector face às políticas de Bush e esta legislação é sem dúvida, representativa desse mesmo sinal. Esta é a única maneira de os EUA poderem realmente pressionar as novas potências a adoptar medidas semelhantes. Esta legislação é importante a nível ambiental mas também no âmbito das relações internacionais. Considero também bastante positivo a criação do mercado de licenças. Apesar de ser uma medida que tem bastante a melhorar para que não se torne lucrativo comprar somente licenças e não reduzir aquilo que produzimos, é sem dúvida um primeiro passo fundamental para a "redução" de emissões de qualquer país. É uma espécie de ponto de partida. Por último há que salientar a concordância entre o plano de estímulos (que aposta fortemente em energia "verde") e a peça legislativa que invoca as metas a atingir, metas essas que são bem mais ambiciosas que as de Bush, onde a meta era de apenas 50% em 2050, deixando as medidas necessárias somente para o longo prazo.
Existem claros aspectos negativos. Apesar de a proposta ter sido aprovada, houve uma redução das metas e da ambição, em parte por culpa dos republicanos, adivinhando-se uma dura batalha na Câmara dos Representantes e no Senado. Não sou vidente mas se fosse diria que esta proposta acabaria por ser aprovada, mas aquilo que temo é que seja sucessivamente "suavizada" acabando por ser no final, apenas um papel bonito. Este é o preço a pagar pela falta de consenso na matéria. As metas em si, são na minha opinião, pouco ambiciosas em relação ao que deveriam ser. A questão não passa tanto por subir os 17% a 20% até 2020, mas sim o ano de partida, fixado em 2005 e não em 1990. Dir-me-ão que o plano seria reprovado se tivesse como ponto de partida o ano de 1990. Infelizmente tendo a concordar. Para mim um plano ambicioso teria de cortar em 20-25% até 2020 e 100% até 2050. Porque desengane-se quem pensar que o único problema é a emissão de gases poluentes para a atmosfera.
Em suma algumas das ambições de Obama foram suavizadas e a batalha está longe de terminar mas sem dúvida que é um primeiro passo fundamental para a construção de um novo mundo e em especial para as negociações de Dezembro deste ano em Poznan na Polónia onde se vai discutir o pós-Quioto. E aí, somente com a cooperação da China e Índia é que se irá conseguir algo na prática. E esta legislação é um ponto de pressão fundamental para se chegar a um consenso.
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Pois parece-me que o problema dos "compromissos" é o principal que Obama vai ter de conseguir gerir para não deixar que isso elimine o fundamental da sua acção. Não vai ser fácil.
ResponderEliminarFernando,
ResponderEliminarSem dúvida que Obama herdou uma América que há poucos anos atrás ninguém sonharia que seria possível herdar. É uma tarefa herculea e sozinho não vai conseguir. Necessita de uma equipa competente, empenhada e acima de tudo disposta a arriscar. Vai cometer erros como qualquer outro presidente e vai sofrer muitas derrotas.
Contudo penso que tem capacidade para conseguir gerir a situação e conseguir inverter o ciclo em que actualmente os EUA se encontram a todos os níveis. Só a História irá fazer um julgamento "justo" da presidência de Obama mas por agora penso que se mantido fiel às suas ideias, com todas as atenuantes a que a realidade política obriga.
Cumprimentos.
Uma redução de 100% até 2050 parece-me um pouco ambiciosa demais... Não esquecer que energias alternativas não são sinónimo de energia livre de emissões.
ResponderEliminarEsse objectivo implicaria substituir praticamente todo o parque automóvel, todas as centrais de produção eléctrica... Se não fosse insustentável poderia duplicar-se o número de centrais nucleares. Actualmente os mecanismos de retenção de carbono são dispendiosos e, no caso dos EUA, estamos a falar de mais de 3000 centrais a gás.
Francisco,
ResponderEliminarEm primeiro lugar obrigado pelo comentário. É sempre um prazer poder debater os mais variados temas e aprender com a opinião dos outros.
Não sou especialista em energia mas para mim a solução passa pela combinação de várias energias renováveis num sistema de microgeração. Sistema esse que estaria interligado por uma rede inteligente de distribuição. Esse sistema encarregava-se de vender a sua energia quando a tivesse em excesso e de a comprar quando tivesse falta dela, bem como de garantir fornecimentos de emergência (por exemplo retirar energia que produzimos para colocar em hospitais, etc. em caso de catástrofe).
Tendo eu esta opinião, mostro-me contra o nuclear, algumas barragens, grandes parques eólicos, sistemas fotovoltaicos massivos (caso de Moura) e centrais a gás natural.
Obviamente que prefiro todas estas formas de energia a centrais cujo funcionamento seja assegurado pelo petróleo ou pelo carvão. E admito que algumas barragens sejam extremamente importantes para o desenvolvimento regional bem como a central fotovoltaica de Moura. Não acredito é que a implementação destes exemplos em larga escala seja a solução. Para mim a chave é a descentralização focada no consumidor-produtor, tanto para as populações como para as empresas.
Acredito em sistemas coordenados a nível local ou distrital, aproveitando da melhor maneira os recursos endógenos. Imagine que no seu concelho existia uma central geotérmica municipal, um parque eólico municipal, painéis solares térmicos e fotovoltaicos em todos os fogos habitacionais e várias turbinas eólicas urbanas. No pequeno rio que passava pelo seu concelho existia também uma mini-hídrica. É neste tipo de futuro que acredito para a energia e é aí que considero ser possível cumprir as metas que propus (em termos de produção de electricidade).
Em relação ao sector dos transportes é sem dúvida bem mais complicado. Porque acredito que na produção de electricidade é possível atingir estes objectivos com vontade política e com elevados investimentos, mas nos transportes o caso torna-se mais difícil. No caso dos automóveis creio que o eléctrico está já a atingir um bom nível de maturação e se as marcas tiverem interessadas no projecto podemos ter até 2020 automóveis 100% eléctricos a atingir velocidades e com uma autonomia perfeitamente comparável aos de combustão. O sector ferroviário apenas necessita de ganhar uma maior eficiência energética e que a produção de electricidade para o seu consumo seja produzida por energias renováveis. Aquilo que vejo apenas num futuro longínquo é o sector naval e mais ainda, o sector da aviação. Aqui será extremamente difícil atingir os 0% de emissões. Especialmente porque não acredito nos bio-combustíveis. Será sempre possível ir reduzindo as emissões através de um melhor aproveitamento energético mas a sua total dissipação só se conseguirá com largos anos de investigação e experimentação.
Cumprimentos.
Caro Daniel,
ResponderEliminarVejo que o Banqueiro Anarquista já tem um seguidor! Por enquanto é só um... Espero que com o tempo por lá passem mais pessoas.
Em relação ao comentário, há que clarificar três aspectos diferentes na questão energética:
1) O esgotamento dos combustíveis fósseis
Penso que ambos concordamos que é preciso encontrar alternativas aos combustíveis tradicionais, uma vez que estes tendem a ficar cada vez mais caros e inacessíveis. Aqui há muitas soluções possíveis mas cada uma delas, por si só, não é suficiente para alimentar a sede de energia do mundo moderno. Uma combinação inteligente daquilo que temos com aquilo que teremos no futuro é a melhor maneira de fazer durar as nossas reservas de energia. Era bom que pudéssemos, já amanhã, passar a utilizar apenas fontes renováveis. Aqui há que ter em conta que a Economia funciona também a energia, e sem ela a Economia sofreria.
2) A eficiência da produção/consumo de energia
Não basta encontrar novas fontes - há que saber usá-las racionalmente. Um exemplo prático: uma central nuclear em Portugal produziria 50% da energia eléctrica consumida. Então porque não duas centrais? Porque a haver duas, teriam de estar ambas no Norte do País por razões de segurança sísmica. Isso não faria muito sentido porque o transporte de energia para o Sul acarretaria perdas (e vender para o Norte de Espanha para comprar no Sul também não seria vantajoso com duas centrais). É aqui que entra a noção de microgeração e descentralização da produção eléctrica. Produzir consoante as fontes e consumos locais é uma maneira de evitar perdas desnecessárias e acréscimos de preços. No entanto, há que ver que existem vários tipos de energia e que nem todas podem ser produzidas em quantidade suficiente para satisfazer as diferentes necessidades. Eletricidade, combustível e aquecimento podem ser todos a mesma coisa ou não. Depende dos casos. Por exemplo em minha casa, por não haver gás canalizado, usamos um fogão eléctrico e o aquecimento central tem como base água aquecida num acumulador a diesel. Se eu produzisse biogás, não o poderia utilizar para já. Se pudesse, valeria a pena trocar as máquinas todas?
3) As emissões de CO2
Supondo que os pontos 1) e 2) são observados cuidadosamente, falta ainda o problema da poluição e do aquecimento global... É que as alternativas ao petróleo, por exemplo, podem também elas ser poluidoras. A biomassa, o biogás, os combustíveis alternativos de origem vegetal, as quintas de algas, a produção de hidrogénio e outros são alternativas que, combinadas, poderão aliviar a falta de petróleo. Podem até, em regime de geração local, levar a uma grande eficiência na produção e consumo. Mas são também elas fontes de gases de estufa. Só resolveriam a escassez de petróleo e não o problema do aquecimento global.
Uma solução para as emissões seria a convergência para a electricidade/hidrogénio. Mas ter-se-ia de encontrar uma forma de produzir electricidade sem emissões. O sequestro de CO2 é uma possibilidade, a par com o ciclo do enxofre-iodo ou outras alternativas à hidrólise sem electricidade (isto para alguns casos de produção de hidrogénio).
Desconsiderar o nuclear, a eólica e a fotovoltaica parece-me um erro... Ou a oposição é apenas em relação à escala faraónica de alguns projectos? Já agora, a respeito do problema das emissões, sugeria um post que escrevi há tempos sobre isso: O Complexo de Chernobyl (V) onde se pode ver claramente porque é que o nuclear (e não só) é uma hipótese a considerar na redução das emissões. E depois falta a fusão nuclear, que ainda está para vir...
Cumprimentos
Francisco,
ResponderEliminarPeço desculpa por só estar a responder agora mas ontem à noite a minha ligação à Internet caiu por um motivo que desconheço.
1) Concordo plenamente. É necessário uma combinação de várias energias. Combinação essa aliada a uma crescente eficiência e a sistemas inteligentes de distribuição. Não é por acaso que vários autores referem a eficiência como uma "forma de produção de energia". E as energias alternativas não se podem limitar a não emitirem gases poluentes ao produzirem energia. O seu fabrico também tem de ser "eco".
2)Sou contra o nuclear apenas pela segurança. Agora sem dúvida que no processo de adaptação prefiro que se encerrem primeiro centrais a carvão ou a petróleo que centrais a gás natural ou centrais nucleares. Para mim a chave é a combinação dos recursos locais e a contínua pesquisa de novas formas de produção (exemplo da energia das ondas, eólica offshore, energia das correntes marítimas, etc.). E para colmatar as dificuldades de conciliar o excesso/defeito da produção de cada um, existiam as tais redes de distribuição onde a necessidade de uns coincide com o pico de produção de outros. Para tudo dar resultado obviamente que são necessários incentivos, para que se tornasse compensatório você trocar as máquinas todas.
3) Não acredito em culturas energéticas. Especialmente quando feitas à conta de desflorestação intensiva. São culturas que prejudicam bastante mais que o próprio petróleo, no meu entender. Para mim o futuro do biodiesel passa apenas pela reciclagem de óleos alimentares e industriais através de um sistema nacional de oleões e campanhas de sensibilização. Esse biodiesel serviria para abastecer veículos como carros da polícia, bombeiros, ambulâncias, etc. Em relação a desconsiderar a nuclear, a eólica e a fotovoltaica. Do nuclear já manifestei a minha opinião. Da eólica e da solar apenas não acredito nas obras faraónicas. Não sou contra o caso de Moura especificamente, simplesmente não acredito que esse tipo de obras seja o futuro. Nem dos parques eólicos intensivos. Sou a favor deste tipo de tecnologias mas numa componente de microgeração, caso dos paineis solares térmicos e fotovoltaicos domésticos, as turbinas domésticas e no futuro, as turbinas urbanas. Digamos que prefiro ver todas as casas com um painel solar e todos os postos de iluminação com um painel solar do que ver mais Mouras a crescer.
Em relação ao sequestro de Co2 acredito em "máquinas de purificação do ar" e no enterro do Co2 em bolsas de petróleo e gás que estejam esvaziadas. Mas apenas na óptica de limpar aquilo que já sujámos, ou seja, de retirar Co2 que já está actualmente acumulado. Não penso que o sequestro de gases poluentes venha substituir a ideia de "sociedade carbono zero". Defendo uma sociedade sem emissões poluentes e o sequestro daquilo que já poluímos. Aguardo com expectativa a fusão nuclear, vai ser certamente muito interessante de estudar pois parece bastante promissora em termos de capacidade de produção.
Tenho todo o gosto em ser o primeiro seguidor do Banqueiro Anarquista e desejo-lhe muita sorte ao longo do projecto. Vou também colocar o link nos blogs recomendados e vou ler com muito gosto o post que me propôs.
Abraço,
Daniel.
Caro Daniel,
ResponderEliminar«Não acredito em culturas energéticas. Especialmente quando feitas à conta de desflorestação intensiva.»
Isso refere-se às quintas de algas? Tanto quanto sei, estas não implicam desflorestação. É apenas preciso água, sol e algas. Através da fotossíntese, a energia solar é armazenada quimicamente. Pode ser feito num deserto. E é uma forma de recuperar o carbono atmosférico.
Francisco,
ResponderEliminarRefere-se por exemplo às plantações de óleo de palma cujo crescimento é feito à custa da destruição de florestas tropicais.
Em relação às quintas de algas é sem dúvida mais interessante devido à capacidade de sequestro de Co2 e ao pouco terreno que exigem. Contudo contínuo a não acreditar nessa solução a longo prazo. Talvez tenha o seu espaço no período de adaptação na indústria naval e aeronáutica já que o estado de investigação em relação a energias renováveis é extremamente pioneiro.
Em relação ao aproveitamento do deserto, conhece uma central fotovoltaica projectada pelos australianos? Consiste numa torre gigante com vários espelhos à volta, dispostas em forma de círculo. Estima que vá produzir o equivalente ao consumo de 1 milhão de pessoas. Se encontrar o link do vídeo de apresentação irei publicá-lo aqui. Em relação a projectos de sequestro de Co2, conhece a série Project Earth do Discovery Channel? É bastante interessante.
Cumprimentos.
Caro Daniel,
ResponderEliminarNão conheço esse projecto australiano mas vou ser se descubro mais sobre isso. Também não conheço a série do Discovery Channel.
Mas fico a aguardar mais posts sobre energia no Pensamento Alinhado.
Estão planeados mais posts sobre alterações climáticas/energia até porque é uma das minhas temáticas preferidas. Se quiser que escreva sobre algo em particular está à vontade para sugerir posts. O meu mail é dan_uca@hotmail.com
ResponderEliminarEnvie-me um e-mail para ficar com o seu contacto e depois envio-lhe vários links por lá.
Abraço,
Daniel.
Caro Daniel Rebelo,
ResponderEliminarUm conselho que dou é o de nunca divulgar o email, especialmente se escrito com caracteres ASCII.
Pessoas desconhecidas podem aproveitar-se disso e programas de pesca de endereços podem usá-lo para enviar spam.
Eu vou andar por aqui e sempre que tiver ideias envio um comentário.
Francisco,
ResponderEliminarPeço desculpa pela imprudência. Vou ser mais cuidadoso. Esteja livre de comentar sempre que quiser e de lançar desafios e temas.
Abraço,
Daniel.