segunda-feira, 8 de junho de 2009

Educação | Formação profissional

Muito se tem debatido acerca do alargamento da escolaridade obrigatória para o 12º ano. A educação é uma temática que influencia todas as outras e, numa altura de crise, assume dimensões ainda maiores. A actual ministra da educação defende que Portugal pode aspirar de forma realista a este alargamento de 3 anos na escolaridade obrigatória bem como à generalização do ensino pré-escolar. Esta proposta recebe a aprovação de todos os outros partidos com acento parlamentar apesar de questionarem o oportunismo político desta proposta, devido à proximidade com as eleições legislativas.

Pessoalmente concordo com este alargamento e fico feliz por ver que os partidos, pelo menos uma vez, se unem em torno de uma proposta que efectivamente é importante para o futuro do país. Porque é importante alargar em 3 anos a escolaridade obrigatória? Que benefícios reais traz? Como pode isso resultar num desenvolvimento de Portugal no futuro e consequentemente em uma melhor capacidade de resposta a crises futuras?

Para um país se desenvolver necessita de pessoas formadas e especializadas. Actualmente é visível a urgência de formarmos cada vez mais e melhor as pessoas e é notório que a diminuta taxa de alfabetização e baixa escolaridade da generalidade dos portugueses durante o regime do Estado Novo trouxe consequências nefastas ainda patentes nos dias de hoje. Na minha opinião, a educação está muito relacionada com o facto de Portugal ser frequentemente apontado como estando na "cauda da Europa", ou seja, se estamos nessa cauda isso deve-se em grande parte à falta de formação académica/profissional da maioria da população portuguesa. Felizmente esta tendência está-se a inverter e alargar a escolaridade obrigatória até ao 12º ano seria mais um passo na direcção correcta para a construção não do presente, mas do futuro de Portugal.

Somente após a conclusão do ensino secundário é que nos podemos candidatar ao ensino superior. Ter um grau académico superior não confere emprego garantido mas aumenta essa probabilidade e aumenta o leque de funções que podemos desempenhar. Um licenciado pode desempenhar as funções daquele que tem o ensino secundário, mas aquele que tem apenas o ensino secundário não pode desempenhar todas as funções para as quais o licenciado está habilitado. Nesse aspecto será sempre melhor para a pessoa individualmente e para o país como um todo, ter um maior número de pessoas capazes de desempenhar um maior número de funções, adaptando-se a mais empregos e correspondendo com mais facilidade às necessidades do país. Ao aumentarmos a escolaridade obrigatória para o 12º ano, estamos a promover o ingresso no ensino superior, ingresso esse que é cada vez mais fundamental para o sucesso individual e colectivo. Mesmo que esse ingresso não se verifique imediatamente após a conclusão do ensino secundário existe sempre essa possibilidade no futuro. Enquanto que alguém com o 9º mesmo que decida já em idade adulta aumentar a sua formação, muito provavelmente ficar-se-à pelo 12º ano.

Actualmente existe um gama cada vez mais alargada de cursos profissionais e técnicos inseridos nos 3 anos que marcam a duração do ensino secundário. Estes cursos através de umas reformulações e de uma carga horária mais elevada, possibilitam em 3 anos que os estudantes obtenham o 12º ano e aprendam uma profissão ao mesmo tempo, adquirindo também experiência de trabalho com o estágio que têm incluído no curso. Estes cursos são também extremamente importantes para o desenvolvimento do país, pois conferem aptidões técnicas e profissionais que são muito procuradas no mercado de trabalho. Com o desaparecimento dos cursos médios (bacharelato) foi necessário "inventar" cursos que formassem técnicos. Esta "invenção" tem no geral corrido bastante bem já que o número de escolas profissionais e de cursos disponíveis têm vindo a multiplicar, bem como a adesão aos mesmos. Ao aumentarmos a escolaridade obrigatória para o 12º ano, estamos a fomentar a adesão a estes cursos que são essenciais para a formação dos técnicos e profissionais do nosso país. Profissões como a pesca e a agricultura renascem e renovam completamente a sua imagem com este tipo de cursos. Cada vez mais é essencial todos nós termos uma formação específica que complemente a nossa formação básica e estes cursos são a resposta a essa necessidade.

Sem recorrer a nenhum estudo, digo com toda a certeza que quanto maior é a formação de um indivíduo, melhor é a sua adaptação e capacidade de argumentação. Que significa isto? Significa que quanto maior formação uma pessoa tiver, mais possibilidade existe de essa pessoa desenvolver interesses que procurem aumentar cada vez o seu conhecimento. Ler livros, ver documentários, ler artigos na internet, comentar, debater, etc. Tudo isto é importante para a formação global de uma pessoa, pois vai "completando-a". Esse conhecimento contínuo que essa pessoa procura (fruto do estímulo da sua maior formação e consequente capacidade de compreensão e análise) vai significar melhorias para essa pessoa e para o seu país. Porque uma pessoa formada é capaz de se adaptar melhor a mudanças no seu emprego (por exemplo o primeiro plano que Salazar fez para desenvolver a indústria e a agricultura portuguesa encontraram fortes dificuldades porque os operários e agricultores não se conseguiam adaptar à elevada mecanização, fruto da sua fraca formação) o que será certamente melhor para essa pessoa. Além desta melhor adaptação no mercado de trabalho e às suas alterações, uma pessoa formada que desenvolva gostos e hábitos que aumentem sucessivamente o seu conhecimento pode mais facilmente verificar e contestar injustiças e propor soluções para os problemas que encontra. Isto reflecte-se em muitos campos, como por exemplo no político. Só se uma pessoa for capaz de analisar a actuação de um governo de uma forma coerente, é que será capaz de apontar os seus defeitos e propor alternativas ou apoiar um partido que proponha essas mesmas alternativas. Ao aumentarmos a escolaridade para o 12º ano, estamos a aumentar a probabilidade de cada vez mais pessoas procurarem o contínuo aumento do seu conhecimento, sendo essa a única via para a evolução e desenvolvimento. Se ninguém estiver disposto a procurar cada vez mais, não existem alterações.

Por tudo isto sou a favor de um alargamento da escolaridade obrigatória em 3 anos. Tal como a fraca escolaridade resultante de regimes antigos revela os seus efeitos ainda nos dias de hoje, tal medida vai ser sentida não daqui a 2 anos mas daqui a 20. E aí penso que Portugal olhará para trás e constatará com gosto a diferença que tal acto produziu.

2 comentários:

  1. Sim eu também concordo que é uma boa medida embora existam outros ângulos possíveis de análise.

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  2. Fernando,

    A medida em si é boa mas o alargamento só por si não consegue revolucionar a educação como se gostaria. É necessário ter sempre em atenção todos os vectores para que não exista nenhum que "trave" a melhoria. A título de exemplo, as condições da próprias escolas secundárias. É necessário ter escolas modernas, com equipamentos modernos e com um ensino moderno para que esses 3 anos melhorem efectivamente as competências de todos os estudantes.

    Cumprimentos,
    Daniel.

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