terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O mundo com Obama

Passou quase um ano desde que Barack Obama tomou posse como o primeiro presidente afro-americano dos EUA. A magia da sua eleição cobriu o mundo inteiro e encheu de esperanças todos os povos. Ele, Obama, não ia só resolver todos os problemas do seu país como os do mundo inteiro. Foi nessa esperança que assentou a sua candidatura e foi essa esperança que lhe deu uma vitória altamente improvável. Passado praticamente um ano será que o mundo mudou assim tanto como a sua eleição deixava antever?

Na minha opinião sim. O mundo não mudou tanto quanto eu gostaria e nem todas as mudanças ocorridas são positivas. Mas penso que a eleição de Obama trouxe um novo fôlego para os EUA e para o mundo tendo a sua administração desenvolvido esforços em praticamente todas as frentes de batalha em que se encontra (e não são poucas) produzindo já alguns resultados concretos.

No plano interno Obama fez algo absolutamente crucial e fê-lo em tempo recorde. Aprovar o seu plano de estímulos. Apesar dos cortes efectuados para que a peça legislativa fosse aprovada pelas duas Câmaras do Senado este plano de estímulos económicos é fundamental para que a maior economia do mundo saia da profunda recessão em que se encontra. Permite criar empregos, salvar empresas em risco, investir em novas infra-estruturas essenciais para o bem-estar da população e investir no futuro da América (por exemplo o denominado "Green New Deal"). As novas regras de regulamentação financeira são ferramentas importantes para prevenir uma nova crise desta magnitude. Outra grande vitória, especialmente se considerarmos o tipo de economia em que os EUA assentam bem como o seu pensamento dominante nesta temática. Os trabalhos realizados para o encerramento da base de Guantanamo, um dos estandartes da campanha de Obama. Uma vitória na política doméstica mas também um passo essencial para sarar a imagem dos EUA no mundo. De destacar também os esforços em matéria ambiental onde a administração de Obama se tem batido fortemente por fazer aprovar legislação doméstica em matéria de alterações climáticas. Por último, a mais recente vitória com a aprovação do "sistema de saúde" que se encontra agora a um fio de ser oficializado. Caso seja aprovado este diploma vai permitir a 30 milhões de americanos que não dispõem de seguro de saúde ter uma protecção.

No plano externo além da situação de Guantanamo referida anteriormente (onde me orgulho de Portugal ter feito parte da solução) o capital político de Obama está bem vincado na nova ordem internacional. A forma como tem conseguido gerir a sua relação de interdependência com a China (G2) gerando benefícios mútuos é notável. O avanço das relações diplomáticas com as potências emergentes como a Índia e o Brasil são também de extrema importância, especialmente no longo prazo onde estas nações terão um papel fundamental na construção do futuro global. Um exemplo deste poder negocial é a Cimeira de Copenhaga. Pessoalmente fiquei extremamente desiludido com o resultado final da cimeira mas tenho de reconhecer que se não fosse o envolvimento pessoal de Obama na recta final da mesma, o retrocesso teria sido bastante maior. E nem aquele pequeno acordo não vinculativo que une pela primeira vez os maiores poluidores com os futuros maiores poluidores teria sido possível.

O mundo não mudou tanto quanto eu gostaria. Obama não conseguiu aprovar os diplomas da forma que eu gostaria. Obama não conseguiu acordos globais como eu gostaria. Mas conseguiu caminhar na direcção certa. E conseguiu fazer algo pela América quando os projectos de lei têm de passar por 3 fases antes de ser aprovados. E conseguiu fazer algo pelo mundo quando a "moral" dos EUA está em níveis mínimos e quando o seu poderio económico e militar é cada vez mais reduzido no contexto mundial. Quando olho para trás vejo que o mundo já começou a mudar e talvez um dia tenha mudado tanto quanto eu gostaria.

Yes We Can!

4 comentários:

  1. Daniel, hoje apenas quero saudar o teu regresso e desejar-te o Bom Ano Novo.
    um abraço

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  2. Na generalidade concordo contigo e aqueles que criticam Obama por terem esperado mais é porque se esqueciam de várias coisas: Obama é um ser humano que não faz milagres, Obama também tem limitações na estrutura política interna; Obama é o Presidente dos EUA e os interesses do seu país nem sempre são os defendidos por todas as pessoas; a bitola de muitos era demasiado elevada e com ideias não consonante com o sistema político e económico dos EUA.

    Qualquer forma, julgo que os passos que deu foram no bom sentido, daí a receber prémios pelas promessas, como o Nobel, sou de opinião que não deveria ter ocorrido, é ainda demasiado cedo e mesmo que consiga tudo o que de bom se deseja, é um precedente perigoso. Mas disto Obama não é culpado.

    Já agora, tenho mais um blog o Mente Livre, mas tens acesso a ele através do Geocrusoe.

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  3. Paulo Lobato,

    Muito obrigado :) Não me esqueci que me custumas dar sugestões para posts :P Já sabes que estás à vontade!

    Continuação de boas festas!

    Abraço,
    Daniel

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  4. geocrusoe,

    Basta analisarmos as iniciativas legislativas de Obama e vermos a forma como são bloqueadas para percebermos que é impossível para a sua administração fazer tanto quanto gostaria. Nos EUA não existe um partido com maioria absoluta que pode impôr disciplina de voto. A peça legislativa proposta pelo presidente tem de passar por 3 fases até ser aprovada. 3 fases com uma negociação muito dura.

    Para que o plano de estímulos fosse aprovado teve que haver cortes normeadamente em gastos de saúde e educação. Eu acho isto errado mas prefiro um plano de estímulos mais "fraco" do que um fracasso total. O mesmo para a legislação ambiental e para o sistema de saúde. Eu acho que é o facto de Obama estar no caminho certo que consegue estes acordos que apesar de não serem tão fortes quanto eu gostaria são de facto algo positivo. Se a sua administração não estivesse tão empenhada nas negociações nada disto seria possível. O mesmo em Copenhaga. Para mim o resultado da cimeira foi péssimo. Mas se Obama não tivesse negociado fortemente na recta final da mesma teria um desfecho ainda pior.

    Obama tem a noção do que tem de ser feito e na minha opinião tem lutado pelas suas promessas. Precisa é de mais apoio tanto a nível interno como externo. Precisa que mais pessoas compreendam o que tem de ser feito e façam pressão nesse sentido.

    Vou já visitar o Mente Livre!

    Abraço,
    Daniel

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