quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Mar | Energias Renováveis

Costuma-se dizer que Portugal é um país de escassos recursos. Quando abordamos os recursos energéticos tradicionais (petróleo e carvão) estamos perto do zero. A era da energia barata chegou e com ela a Revolução Industrial. O desenvolvimento do nosso país fez-se então à custa da importação destes dois recursos vitais para alimentar a "sede" do crescimento. Quanto mais nos desenvolvíamos mais petróleo e carvão importávamos causando um desequilíbrio na balança comercial.

Estaríamos nós condenados a este endividamento eterno para sustentar o desenvolvimento do país? Conseguiríamos nós estender esta factura infinitamente?

Com o surgimento em massa das energias renováveis e com a mudança do paradigma energético descobrimos provavelmente a maior riqueza de sempre de Portugal. Esta é a oportunidade de reduzirmos a factura, pagarmos a mesma e começar a lucrar no mercado global da energia. O nosso país dispõem de um mix energético bastante atractivo em quase todas as energias alternativas e que nos confere uma capacidade de produção bastante acima das nossas actuais necessidades, que por força da eficiência, se poderão manter estáveis. É este o nosso petróleo. Com a vantagem de não ser ambientalmente condenável e de não lhe podermos perspectivar um fim.

O mar, desígnio nacional com elevada tradição não foge a esta regra. Ao estudarmos a História de Portugal encontramos no mar um aliado, algo que impulsionou a nossa Nação. Encontramos o responsável pelos nossos momentos mais áureos. Existe uma proporcionalidade entre a "expansão" dos mares e oceanos e a expansão do nosso país. Tal como no passado, o mar revela-se no presente como um importante aliado para o futuro. Algo que poderá impulsionar uma vez mais Portugal. Em tempos idos a expansão dos mares era a expansão do conhecimento. Hoje a expansão dos mares é a expansão da energia. E uma vez mais devemos aproveitar esta oportunidade e trilhar caminhos por onde ninguém se atreveu a viajar. Temos que ser pioneiros outra vez e revelar ao mundo um outro mundo. Não continentes nem povos mas como produzir energia nesta imensidão azul que ocupa 70% da superfície terrestre.

Seja na energia das ondas, na energia das correntes marítimas ou na eólica offshore, Portugal tem a possibilidade, a coragem e o dever de aproveitar este novo recurso. Existem projectos-piloto nestas áreas e eles simbolizam as primeiras caravelas a partir de Lisboa rumo ao desconhecido. Com certeza iremos encontrar dificuldades. Tal como no passado, não será fácil manter a rota certa. Mas se tivermos a coragem para lutar até ao fim a recompensa será imensa.

Existe um novo tesouro no fundo do mar e nós portugueses temos todas as condições de o ir reclamar.


Introdução ao post aqui

8 comentários:

  1. Tal como no caso da energia eólica, espero que nesse campo sigamos na vanguarda. Isso tem a vantagem de não só reduzir a nossa dependência energética do exterior, como de se produzirem os equipamentos em Portugal, para consumo interno e exportação. Ou seja, em simultâneo reduzem-se as importações e aumentam-se as exportações (para além das fundamentais questões da ecologia e da sustentabilidade). Será difícil arranjar investimento mais frutuoso. E será difícil não dar ao PS o mérito de tudo o que se fez até aqui, esperando que continue nessa senda.

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  2. Daniel, excelente artigo, sobre um tema que me é querido e que deverá ser sempre relembrado e divulgado.
    Estou plenamente de acordo contigo no que á produção de energias renovaveis diz respeito. O futuro passa por ai e Portugal tem uma situação geográfica e climatérica que nos permitirá, se devidamente aproveitados e desenvolvidos os meios, estarmos na linha de frente em termos Europeus.
    Quanto ao que podemos extrair do mar, temos os dois tipos que referiste, a energia proveniente das ondas e eólica offshore. Relativamente ás ondas, já temos em funcionamento a central da Aguçadoura no norte e penso que está na forja qualquer coisa nos Açores. O problema da eólica, pelo que tenho conseguido apurar, é que a nossa plataforma continental é demasiado acidentada e profunda e consequentemente deixa-nos praticamente sem grandes hipóteses de a explorarmos em massa, como fazem por exemplo os Dinamarqueses. Mas nem só de mar devemos falar. A energia fotovoltaica é também um mundo a desbravar e nós temos na Amareleja a maior central do género no Mundo !
    Aliás, neste sector penso que têm sido dados passos bastante positivos e que nos podem trazer grandes benificios no futuro.
    Nem tudo pode ser mau, não é ?

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  3. Rui Herbon,

    Concordo plenamente contigo. Aliás a critica que eu faço ao governo é não ter tomado mais medidas e acções (por exemplo na expansão da microgeração para as PME ou na expansão da quota para a população em geral). Nunca de inacção. Há que reconhecer todo o emprego e riqueza gerado pelas energias renováveis, o cluster industrial de que falas, os benefícios ambientais e a redução da factura energética que tanto peso têm no saldo final do país. Actualmente detemos projectos pioneiros inovadores a nível mundial e isso é o ponto de partida. Espero que se concretizem as nossas expectativas com todos os benefícios que lhes estão associados.

    Abraço,
    Daniel.

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  4. Eduardo Miguel Pereira,

    Também me sinto entusiasmado ao escrever e falar sobre energias renováveis. É um tema que adoro debater e aprender. Existem sim esses projectos na energia das ondas e aquilo que pesquisei em relação à eólica offshore levou-me a concluir o mesmo que tu. Mas li uma entrevista do Dr. António Mexia (CEO da EDP) muito entusiasmado em relação à eólica no mar. Talvez o tamanho que as turbinas podem atingir (uma turbina no mar poderá produzir o mesmo que várias em terra) bem como ventos mais constantes consigam "superar" de certa forma esse problema de engenharia que se coloca em relação à geografia da nossa plataforma continental. Em relação à energia das correntes marítimas eu penso já existirem projectos-piloto no nosso país mas tenho que pesquisar mais sobre o tema. Aquilo que me despertou a atenção para este tipo de energia é um projecto nos EUA que vi num documentário.

    Sobre a energia fotovoltaica aquilo que tenho a dizer é que é a minha preferida. Só não a desenvolvi neste post porque era dedicado à relação entre as renováveis e o mar. Considero a Amareleja como um ícone importante para o país mas não como um exemplo a seguir. Para mim a chave para a independência energética do país contem duas palavras: microgeração e sol.

    Não nego o contributo que todas as outras fontes de energia renovável têm mas para a mim a base deveria ser a microgeração baseada no sol (térmico e fotovoltaico). São esses os passos que eu gostaria de ver o próximo governo dar, seja qual for o partido que ganhe. Expandir a microgeração como forma de alcançar a independência energética, reforçar a competitividade das empresas, aumentar o rendimento médio das famílias, criando mecanismos de redução da pobreza e de integração social, etc. É possível englobar todas estas vertentes com a microgeração solar (algumas delas já escrevi em post).

    Nem tudo é mau e a área das energias renováveis é algo de que me orgulho no nosso país e algo que considero positivo da actuação do actual governo.

    Abraço,
    Daniel.

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  5. Gostei deste post sim senhor...

    O projecto dos Açores está parado devido á fúria dos nossos mares... Pelos vistos por cá temos energia a mais xD

    Nos Açores vejo a energia das marés e ondas muito difícil de instalar, visto que estamos no meio do oceano as nossas ondas são muito fortes, par não falar das marés de Agosto, que acontecem uma vez por ano e que as ondas para além de fortes ficam monstruosamente grandes e as marés sobem mais do que o normal...

    Temos também problemas com a nebulosidade de inverno, primavera e outono, mas no Verão temos o anti-ciclone... E conheço investimentos rentáveis em painéis solares para aquecimento de água...

    Agora temos duas vantagens, a eólica, e a geotérmica... Existindo já uma central em S.Miguel e está proposta uma para a Terceira, de resto não sei mais projectos...

    Agora no continente considero o futuro a fotovoltaica... Mas como microgeração... e nunca poderá existir o só apoio a compras em algumas empresas de microgeração, deixando as outras de parte... Ainda bem que essa situação foi resolvida... Mais concorrência = menores preços... Melhores preços= acessível a mais pessoas

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  6. Grifo,

    Primeiro que tudo ainda bem que gostaste :D

    Pode ser que com o desenvolvimento da tecnologia se possa aproveitar melhor as ondas nos Açores :) Essa fúria toda significa que o potencial é maior que o esperado e temos que ver isso do lado positivo!

    Os Açores são o único local onde se aproveita a sério a energia geotérmica. Era interessante ver um projecto que estudasse a totalidade dos recursos no arquipélago inteiro. Nessa matéria os açorianos deveriam vir "dar cartas" ao continente especialmente ao norte, onde existe um potencial geotérmico que actualmente não está explorado. Em Portugal, mas praticamente em todo o mundo, acho que a energia geotérmica é um pouco incompreendida e deveriam-se focar mais investimentos e investigação nesta fonte de energia renovável.

    A tua última parte do comentário foca exactamente aquilo que eu defendo. Sol e microgeração. Tanto para particulares como para empresas como para os edifícios públicos. Seja para renovar o sistema de distribuição, baixar preços, diminuir as emissões, descentralizar a produção, aumentar a segurança energética, estimular a economia, reduzir a pobreza, atingir a independência energética, etc. Estas duas palavras combinadas têm o potencial de solucionar ou pelo menos minorar uma quantidade enorme de problemas com que hoje nos deparamos.

    Abraço,
    Daniel.

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  7. Parabens pelo post pois estes assuntos necessitam de ser divulgados.
    E quando falamos em energia alternativa ou construção auto sustentável as empresas já não podem apresentar a desculpa da redução de lucros, pelo contrário. Os industriais estão a investigar um novo e lucrativo mercado para produtos com características de protecção ambiental, com maior durabilidade e menor despesa de fabrico. Os novos processos construtivos também resultam em economias importantes, que se traduzem num menor custo final das obras. O conhecimento dos novos materiais disponíveis no mercado permite aos empreendedores oferecer produtos imobiliários com novos atractivos aos consumidores. E estes ganham a perspectiva de menores custos de manutenção da habitação, e até de obter algum lucro, como na possibilidade da venda da energia excedente.

    Já pa não falar na possibilidade ridicula de implementar uma central nuclear em Portugal visto que actualmente não existem físicos nucleares, engenheiros ou técnicos capazes de lidar com o problema, os Portugueses qualificados para esse fim estão no estrangeiro muito bem instalados e face a não terem as mesmas condições que lá fora não vêm para cá. Neste caso é inaceitável construir uma central nuclear para ser montada e gerida, operada e mantida por outros, neste caso opto por deitar as mãos a todas as energias renováveis que possa e participar nos grupos de investigação e desenvolver mais o nosso capital humano.

    Desculpem o testamento(Mas o planeta está a derreter)

    Pedro(Estudante de Energia Solar)

    Visitem o meu blog:http://alternativa-renovavel.blogspot.com/

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  8. Abrantes,

    Peço desculpa por só publicar e responder ao comentário agora. O blog esteve inactivo e só voltei agora. Antes de mais muito obrigado pelo comentário :)

    Eu não concordo com a instalação de energia nuclear em Portugal por diversos factores mas mesmo que não tivesse nada contra o nuclear penso que não faz sentido em Portugal adoptar esta estratégia. Com o mix de renováveis de que dispomos podemos ser bem mais que auto-suficientes. A segurança energética ficaria também a ganhar pois para mim o futuro passa pela descentralização da produção energética e não na substituição de uma forma concentrada por outra.

    Vou já visitar o teu blog!

    Abraço,
    Daniel

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